quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

chá

um chávena e meia de chá...um desprendimento do que nos rodeia...sorrisos espalhados por toda a sala e aquela conversa fluída que nos preenche até ao adormecer e acordar para um dia seguinte...

...foi assim a minha tarde de ontem. é assim que deve ser

coisas simples trazem-nos tanto que fico a pensar se serão mesmo simples, ou se nós é que andamos enganados.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

TU DISSESTE [Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]

Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."

Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

sábado, 5 de dezembro de 2009

Parabéns a mim :)


Um obrigado àqueles que se lembraram...àqueles que não se lembraram e àqueles que nem sequer sabiam :) vai ser tão bom...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

La surprise (Jean-Antoine Watteau )


Une surprise?? J´adore des surprises...les surprises me font sourire meme avant de les voir...j´aime tout ce que me fait sourire...toi...tu me fait sourire...

pour SR

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

3

"No destino (ou missão de vida) significa sobretudo auto-expressão e criatividade. “Terá uma facilidade de auto expressão muito grande, como já foi dito por isso escreva, fale, enfim utilize esse potencial criador pois foi destinado a ser portador de alegria para o mundo. Cultive as amizades e ajude outros a ficarem com boa disposição.A vida para um destino número 3 deverá ser expansiva e recheada de boas oportunidades de sucesso se desenvolver os seus poderes criadores. Então atingirá a ostentação e o belo ambiente que almeja a sua alma.Evite os traços negativos como o autoritarismo a presunção o pessimismo o sarcasmo e o cinismo.”

Partilhar

Em jeito de partilha aprendo a partilhar aquilo que não tenho
que se chama egoísmo
aprendo a pensar como os demais
e a ser mais
a ser rude
a ser trouxa como todos os outros cinicos laicos que me rodeiam
e se a vida me premeia com dádivas infindáveis
porque não aproveitar?

...amores invejáveis,
tesouros escondidos,
bestas afáveis
de loiça...
...partidos...

tirem-me a luz do quarto
e eu adormeço
tirem-me o cansaço
e eu desfaleço
tirem -me o sorriso fingido
e façam-me chorar
tirem-me a ponta dos dedos
e eu deixarei de partilhar...

GR

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O regresso do amor

Onde vais? - perguntei eu com o sobrolho franzido
Encolheste os ombros em jeito de pausa dúbia e não falaste...
Onde vais? - voltei a perguntar com um tom um pouco mais alto
Não sei - disseste.
Como não sabes? - indaguei-te com ar de lobo mau
Não sei mesmo, juro - disseste com ar de anjo
Mas voltas?
Talvez?
Achas que voltas?
Sim. - disseste afirmativamente
Então eu espero por ti. - disse eu com um sorriso pequenino...
Está bem - disse-me enquanto caminhava tocando com os dedos no chão e benzendo-se a cada passo que dava sem olhar para trás...


Nunca mais regressou de onde não sei para onde foi...

...porque nunca saiu de dentro de mim...

Guilherme

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Obrigado...

"...Ela estava mesmo junto a mim, os olhos azuis tinham descido sobre os meus lábios e eu sentira, pouco a pouco, que o que dizia se dissolvera na própria respiração que me mantinha vivo, os lábios dela aproximaram-se, os olhos fixos nos meus lábios, e senti-os tocarem-me o rosto levemente e depois os lábios..."

"Lisbon Song"
António Mega Ferreira

quinta-feira, 30 de julho de 2009

o bater do teu coração

um dia nao acreditei em mais nada senão naquilo que via com meus dois olhos...um dia não ouvi mais nada senão o que ouvia com meus dois ouvidos...um dia não falei...simplesmente ouvi...um dia não contei as horas, simplesmente as senti...um dia ouvi um bater de um coração ...que não era o meu...

Se por cada pedra da calçada eu desenhasse uma lua
sentia que todas as pedras da calçada iriam ganhar vida
se por cada esquina rabiscada com o desenho dessa mão tão só tua
eu passasse indiferente,
perderia um minuto de vida por cada passo que não desse em frente
se por cada despertar ruidoso de tremores de terra em mim
eu acordasse já cansado
não teria tempo para pensar em mais nada senão no menos que bom
que seria "assim assim"!
e se eu não levasse a sério nada do que os meus olhos vêem que meu ouvidos ouvem e que o meu silêncio prometeu...
perguntava então esgueirando-me por entre portas semi cerradas,
de quem é então esse coração?

é teu.


Guilherme

terça-feira, 28 de julho de 2009

Apoplexia da ideia

"acho que é nesse autocarro que vais. onde espero pelo rasgar dos botões
no abismo do tecido. e a estrada roda e morde como se estivesses aqui.
e o braço dói, como tu sabes, quando o tempo muda. acho que é nesse
autocarro que vais. e fico a pensar se me ouves quando por nada dizer
tudo se conhece. acho mesmo que é nesse autocarro que vais.
mas se não for não importa. a verdade há-de falar da generosidade
do brilho.
ficas agora a pensar se é nesse autocarro que vais. e digo-te que não.
a estrada é pelo caminho mais curto onde as mãos são carvão de lápis
a descobrir permanências. não penses que é nesse autocarro que vais.
eu também não."

Maria Quintans
"Apoplexia da ideia"

quinta-feira, 16 de julho de 2009



Se ela morre eu morro-me
se ela vai eu venho-me
se ela cria eu nasco-me
se ela nasce eu mato-me

quarta-feira, 8 de julho de 2009

o nada...

o que resta depois do nada...
resta o nada mais o que houve antes do nada

terça-feira, 7 de julho de 2009

Egoismo por "Max Stirner"

Somente quando as pretensas à falsa autoridade de tais conceitos e instituições são revelados é que a verdadeira acção, poder e identidade dos indivíduos podem emergir. A realização pessoal de cada indivíduo encontra-se no desejo de cada um em satisfazer o seu egoísmo, seja por instinto, sem saber, sem vontade - ou conscientemente, plenamente a par dos seus próprios interesses. A única diferença entre os dois egoístas é que o primeiro estará possesso por uma ideia vazia, ou um espanto, na esperança de que a sua ideia o torne feliz, já o segundo, pelo contrário, será capaz de escolher livremente os meios do seu egoísmo e perceber-se enquanto fazendo tal.

Somente quando o indivíduo percebe que lei, direito, moralidade, religião, etc., são nada mais que conceitos artificiais e não autoridades sagradas a serem obedecidas é que poderá agir livremente.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Coisas

Amparas-me com a tua mão
com o teu sorriso que nunca vi
com a certeza de sempre ouvir de ti
o não...

Penso tantas vezes que não sei quantas vezes penso realmente em ti
penso no que seria no que não foi e no que nunca senti.

Penso que sinto algo por não saber
penso que o sentimento de dúvida é pior que o de saber
penso que não é platónico
nem é mentira
nem é fachada
não é amor
não é absolutamente nada...

O resto do teu dia...o resto da tua vida é hoje por minha conta.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ama-me assim

Aprende qualquer coisa
como quem não sabe nada
aprende a estar em silêncio
e a ouvir o som da parede estalada.

Aprende a inverter-te em cima de camas de água
aprende a eliminar dor, temor, escuridão e mágoa...

Aprende como se nunca te tivessem ensinado coisa alguma
aprende a ser coisa, sexo, calor para dois sem ser só para uma...

Estende a mão ao próximo e não te magoes
aperta com força e sente!
acredita que o amor é tudo
aprende a ser uma verdade
que nunca mente...

Queima os olhos a mirar o sol
e fica cego para todo o sempre
cria-me, renasce, mata-me,
guarda-me no teu ventre...
e...

...ama-me assim

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A beleza da ingenuidade

Sempre que o amor me quiser
Basta fazer-me um sinal
Soprado na brisa do mar
Ou num raio de sol


Sempre que o amor me quiser
Sei que não vou dizer não
Resta-me ir para onde ele for
E esquecer-me de mim
E esquecer-me de mim


Como uma chama que se esquece
Numa fogueira que arde de paixão


Sempre que o amor me quiser
Sei que a razão vai perder
Que me hei de entregar outra vez
Como a primeira vez


Sempre que o amor me quiser
Vou-me banhar nessa luz
Sentir a corrente passar
E esquecer-me de mim
E esquecer-me de mim


Como uma chama que se esquece
Numa fogueira que arde de paixão
Sempre que o amor me quiser

Lena d´Água

terça-feira, 23 de junho de 2009



O silêncio ensurdecedor das manhãs num qualquer autocarro da capital...é ...talvez angustiante...

terça-feira, 26 de maio de 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

a vida

Caminho por mim em silêncio
com um sorriso desmedido no rosto
espero pela tua mão, pelo teu ombro
para meu encosto...
Nunca pensei que a Ela fosse tão perfeita
até se tornar assim maravilhosa
tenho sorrido todos os dias de manhã quando acordo
e de noite quanto me deito
nunca pensei que a vida, essa mesma, fosse de um tão género perfeito...

Compreendi agora o sentido da fé,
da esperança contida
e da alma
porque todos os meus desejos se tornam
naquilo que me acalma
em si a própria vida ...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

No outside

Adoro pessoas que são bem mais do que aquilo que são...por isso mesmo adoro conhecer pessoas, tal e qual elas são.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

Obrigado *

agradeco-te por vires á minha vida, fazer com que eu sentisse o que sinto, que não sabia que existia assim* ver o que passei de formas que nunca tinha equacionado* dar de caras comigo vendo-me em ti*confiar e entregar-me, não havendo chão* trazeres pessoas contigo que me deram sorrisos* mais mil coisas que vieram connosco e que ficam registadas cá dentro e que não vão mais sair* porque nunca perdemos nada, só somos mais ...sempre mais. nós. em paz*
Porque um texto nunca irá dizer tudo* as letras nunca chegariam...por isso é que o silêncio nos nossos olhos sempre tiveram a palavra* ...

segunda-feira, 6 de abril de 2009


"Fez, da palavra certa, arma ou ternura,
da voz, ora fez grito, ora fez canto,
juntou raios de sol à noite escura
e ondas de alegria ao mar de pranto"

Reflexo do nu


olhei o espelho que reflectia a tua imagem
e pedi-te com a mente para te despires
tu lançaste aquele olhar de soslaio que me abafa
e sorriste.
abanaste a cabeça em jeito de não
e coraste.
eu sorri.
não me queres?
perguntei eu.
tu disseste: quero...como o mar quer o sal...
então vem - disse eu
sorriste.
a tua imagem no espelho tornou-se cada vez mais nitida
e eu corei.
baixei a cabeça...
pegaste na minha testa e juntaste-me ao teu corpo.
está quente- disse
é para ti- disseste
sempre foi...
embrulhei-te no manto que são os meus braços
e fizemos amor até de madrugada...
olhei silenciosamente para o espelho em frente da cama
e vi-te deitada sobre mim...
uma foto perfeita
um leito desmedido
uma boa lembrança de algo que tinha esquecido

ama-me - disseste em jeito de pedido
olha-nos no espelho - disse eu
já me amas, não tinha percebido... - disseste...
sim – disse

1+1=3

Há quanto tempo não me vislumbras como antigamente
Há quanto tempo é antigamente…

Sente, sente que o meu coração está dormente e não te conhece como antes
Chama-me nomes.
Palavreado obsceno
Porque mais vale uma grande paixão
A um amor pequeno…


Há quanto tempo não amas
Só por amar?
Há quanto tempo não estás
Só por estar?
Há quanto tempo não sorris
Só por sorrir?
Há quanto tempo me conheces...
...não vale mentir.

Há quanto tempo somos amantes em segredo
e nada na vida real…

Há quanto tempo é quanto tempo?
Tanto tempo quanto aquele que demoramos a construir
Aquilo pelo qual queremos passar
Que o que não me mata mais
Há-de um dia me destruir.

Sentei-me um dia à tua espera.
Não vieste…tal como antigamente
Sentei-me no dia seguinte esperando-te…
Em vão…
Sentei-me todos os dias desse mês à tua espera no mesmo sítio
Onde nunca combinámos encontrar-nos
E tal como antigamente não surgiste envolta em fumo branco
Como num qualquer cinema de beira
Não me surgiu o espanto!
Surgiu-me a saudade. Sim a saudade.
Essa fruta proibida, mais serena que um céu despeitoso
Esse meu sentimento de antigamente…

Sentei-me noutro banco com a cabeça tombada para a frente
E senti uma mão na nuca
Eras tu!
Não.
Então?!
Pegaram-me na mão
E levaram-me a fazer contas de cabeça
Mergulhado em óleo a ferver!
Tão bem me faz a dor
Como o faz de conta que está a doer.

Somos mentirosos como antigamente
Não mudámos
Nem um pouco.
Perguntaram-me então ao ouvido
Quem eu esperava.
Eu respondi:
“Serenidade”

Deram-me um papel e uma caneta
Para eu a desenhar como um esboço…
Passei a mão ao de leve numa face desconhecida que sentia conhecer
E encontrei-te.

Sentei-me eu
A paixão
E o amor.
Para o almoço.

Curta metragem

Preferes a amorfa solidão
ou acenar ao mundo?
Preferes pisar o chão...descalço
ou deixar marcas por onde andaste?
Preferes andar perdido
ou deixares que te encontrem?
Preferes criar sombras da tua pessoa,
sustos, mordaças, capatazes!
Ou limpar tudo de uma vez
como fizemos em rapazes?
Deixa a tua velha roupa para sempre estendida
e segue o teu instinto,
inicia-te de novo na vida
jogando palavras como eu as sinto
ao acaso...
Não forces, não mintas, não arrastes,
não te levantes se a tua vontade é a rama seca espremida de um qualquer saco de batatas no qual estás deitado...
não olhes em demasia para puzzles sem solução...
Deita-te aqui. aconchega-te...e sonda-me o coração

terça-feira, 31 de março de 2009

domingo, 29 de março de 2009

a Palavra

Levanta-se pó por onde passo
olho para cima e não vejo tecto
são papoilas de cheiro a jasmim que me abraçam
e me retornam o afecto
aquele que não tive em criança
aquele que subjaz uma força incrível
- de quem o dá.

Invento sentimentos e justificações
para o que vai aqui no meu âmago
e então?
não há nada mais que isto.
A palavra.
Aquela que me trás tanta força quanta aquela que quero
aquela que odeio, amo e venero
aquela que me está agora na cabeça
aquela que me tranca e faz com que me esqueça.
Que sou gente

O meu património sou Eu
e assim que o descobrir
não o vendo,
porque antes de o fazer
vou ser eu mesmo,
simplesmente sendo.

Guilherme

sexta-feira, 27 de março de 2009

O meu Deus

Se eu pudesse fazer um negócio com Deus,
subir lá acima e vê-los,
quem??
- os meus destinos,
que pernoitam dentro de mim.
Levá-Lo a suar os meus espaços
enquando caminhava a meu lado
com duas únicas pegadas.
Se eu pudesse um dia
permitir-me a um favor
que não se pede
que se exige
que não mais é que viver...

Enquanto isso, esgueiro-me à janela
e olho-os,
sabendo que um dia vou estar tão perto
que será impossível desistir,
aí todas as tatuagens que tenho no corpo
que me relembram quem sou, sem ser,
vão desaparecer...
vai ser tarde demais para fugir
como sempre fiz
e viverei a vida
que sempre quis.

Até lá minha gente
viverei naquele silêncio que precede o orgasmo
e dar-me-ei ao luxo
de manipular,
agoniar,
invejar,
imitar,
acorbardar...e
escreverei todas as revelações num diário de folhas soltas
para quando chegar a hora do julgamento
eu simplesmente inspirar...soprar
e largá-las ao meu vento...


Guilherme

quinta-feira, 26 de março de 2009

as voltas da vida

tenho pena de não ter agradecido a todas as pessoas, todos os contributos, que tiveram na minha vida...alguns percebemos tarde demais...e sorrimos.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Parado simplesmente pensando
olho para mim mesmo com a cabeça tombada
e os olhos fixos em mim
sem ventos que tragam mudança
sem indagar sobre se há ou não esperança
imóvel, quieto, sereno...
como me sinto feliz por ser imperfeito
e é assim.
é assim o ser humano
é assim que devemos abraçar a vida
pensar cada imperfeição como um passo de gigante
que nos leva cada dia, a algo mais grandioso
porque o que sei agora
não o sabia quando era mais novo.
e é vantagem, ou consciência?
é vida ou vivência?
é simplesmente viver uma vida sábia
e partilhar isso com os demais
porque nunca somos tantos
nunca somos iguais.
As rectas paralelas são mesmo isso
porque nunca se hão-de cruzar
porque sempre foram assim
e aceitemo-las como elas são
fará com o que o meu dia seguinte
tenha uma paz maior que o anterior
porque não há nada melhor que a dor
para ver
que todos os dias não temos de fazer
mas sim ser.
mais além...

segunda-feira, 23 de março de 2009

Porque um Poema é bem mais que o próprio escritor




O Pescador de Sonhos

O Universo é um lugar inteligente
que me guia por estrelas mortas,
que me empurra para um destino
de ténues lembranças absortas.

Perdi o cansaço e ganhei a coragem frívola
de quem renasce dentro das pausas...
que faço para respirar...(uff...)
Lembro-me todos os dias das lágrimas da partida
e das quiméricas ovações da chegada.
Fora isso, o silêncio da noite
não me traz mais nada...

Inalo Saudade dos meus menores amores
e tento encorajar os que me acompanham...
...enjoo em demasia...
Ainda assim acredito em mim
e no que antes de ser o que eu fosse, eu o seria.

Perguntei ao reflexo do espelho da minha vida no mar:
- Quem és tu? Vem daí, vamos conversar.
Não quero. (quero)
Deixo-te aí a naufragar (sonhar...)...

Guilherme

quinta-feira, 19 de março de 2009

tão bom

acordar de manhã e pensar que amamos "alguém"
deitar-me de noite a pensar nesse "alguém"
acordar a meio da noite e sorrir
por esse "alguém"...
que não sei quem é
mas há-de vir...

domingo, 15 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

RIP ...ou não!

The Cramps foi uma banda de garage punk estadunidense formada em 1973. Sua formação passou por várias mudanças, sendo o casal Lux Interior (vocais) e Poison Ivy (guitarra) os dois únicos integrantes permanentes.
Eles foram parte dos primórdios do movimento punk no CBGB, em Nova York. Por serem a primeira banda conhecida a misturar punk com rockabilly, o Cramps é considerado um precurssor do estilo psychobilly, assim como do garage punk.
As músicas do Cramps tratam de temas como filmes-B de horror, fetichismo e assuntos relacionados, com apresentações bastante teatrais.
Em 4 de fevereiro de 2009, Lux Interior morreu no Glendale Memorial Hospital em Glendale, Califórnia, vítima de problemas cardíacos.[1].



terça-feira, 3 de março de 2009

ressuscitados

perguntei..."por onde andaste?"

respondeu: "regressei dos mortos"...

sorri.

e eu perguntei novamente..."por onde andaste"

respondeu: "do lado errado da estrada"...

GR

sábado, 28 de fevereiro de 2009

exercicio

é preciso ser muito bom naquilo que fazemos
para fazermos bem aquilo que não gostamos de fazer...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O destino...

Quando se espera demais do destino,
Quando este nos foge a pés juntos
ou nos prega rasteiras...
de quem é a culpa??

Quando nos iludimos com pequenas coisas
e deixamos de pensar grande
e olhamos em volta e já nada é, como era
de quem é a culpa?

Quando nos repetimos vezes sem conta pela manhã
Quando nos deitamos ansiando sempre o mesmo
e pela noite esse mesmo não está lá...ainda...
Em quem metemos as culpas?

Espero compreender um dia o sentido da vida
tal e qual ela é.
Sem opções, sem esconderijos,
Sem traições, sem porquês,
Sem me desviar daquilo que quero...
ou que penso querer.
Um dia esta nuvem negra irá desaparecer...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

quem diria ...

...que o amor partilhado é o amor perfeito...
que a imagem na minha cabeça
não é a mesma que se deita no meu leito...
que tu e eu somos nós
e que nós somos só um
e só um não somos nada
e sem nada
não chegamos a lado nenhum...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A...

...Minha Poesia,
O meu Manto,
A minha Alegria,
A minha Dor,
A minha Fé,
O meu Amor...
Aquilo que já Foi
E aquilo que ainda É...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Almost there


Soma das Partes


Encontrei em todo o lado
Para onde não olhei
Pedaços de mim …perdidos
Pelo talvez – seja chamado chão…
Ou não …
Bamboleava-me silenciosamente entre eles
Tentando apanhá-los…e …
Não consegui…
Não queria!
Ansiosamente dancei entre mim e o que de mim restava
Até uma próxima madrugada…
…fiz-me à estrada com todos os meus eus na bagageira.
E sem querer parecer petulante
Levei-me aos quatro cantos do mundo…
Em cada canto juntei uma parte de mim…
Porque se um era egoísmo passou a ser dádiva
Porque se um era inveja passou a ser altruísmo
Porque se um era raiva passou a ser alegria
Porque se um era parte, passou a ser o todo…


Voltei a casa para comemorar e não estava ninguém…
Estão todos comigo…
Fiquei feliz assim meu amigo…

GR

Orquídeas

Quando nos pedem para sonhar
geralmente nem conseguimos dormir
Quando nos pedem para cerrar os olhos
Ficamos despertos.
Quando nos pedem muito algo
não exigimos mais do que a vontade de o conseguir fazer...
Para que serve a vontade
se a nossa vontade é outra
Para que serve uma chave ...se só tenho uma janela
Para que serves tu?
...se eu gosto é dela...
...e dela...
...e de outra...
...que não és tu...

Oh infestante que me morres aos pés,
vezes -
e vezes sem conta
que o que não faço com amor
não conta!

Se tenho chegado sempre tarde a tudo
desta vez não cheguei cedo...
cheguei em hora errada
porque ainda não és árvore
não és planta
não és flor
não és nada...

Se entretanto murchares por falta de pensamento
não te preocupes...
Se murchares por falta de abrigo
não te preocupes...
Se murchares por falta de amizade
não te preocupes...
Se murchares por falta de sorrisos
não te preocupes...
Se murchares por falta de lágrimas
...não te preocupes ...
Se murchares por falta de amor...

...afasto-me lentamente de ti...para sempre...e...

...pego em água e meto-a no regador...

GR

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

As sem razões do amor


Eu te amo porque te amo
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.


Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.

Amor foge a dicionáriose
a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Um dia


Um dia estava à janela e ouvi,
um dia estava à janela e vi
todas aquelas pessoas que passaram por ali
como sons ressonantes
no meu ecoar matinal,
um dia não são dias
afinal…

um dia tu chegaste.
Encantaste-me com teus olhos muito abertos,
com teus encantos murmurantes,
daqui a nada…nada será como dantes

Cria em mim isso que pensas
cria em mim palpitações densas
como num ataque de ansiedade,
cria-me sorrisos
cria-me choros
nunca saudade.

Ataca-me por trás e diz que me mataram!
Porque assim escaparás
De penitências
Mal distribuídas.
Vamos então jogar paciências
Ou jogar às escondidas.

Tu vais para um local onde eu não te encontre
E tu escondes-me num local, que saibas sempre onde estou…

Pode ser que um dia saiba que esse dia afinal nunca acabou…

GR

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém......

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Mário de Sá Carneiro

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Há quanto tempo não olhas para cima?


Obrigatório Visitar!

http://www.gargantadaserpente.com/

“Um dia na vida do Homem que nunca reza”

Preâmbulo

São expurgações cutâneas de momentos catalíticos…são catarses eufóricas e diárias que preenchem a vida do homem que nunca reza…



Prefácio (por mim)

…Era uma vez um ser, de nome “Homem sem Fé”, que passava os dias a transpirar. Pelos seus poros saíam como que agonias, pelas horas de stress apático que vivia…no trabalho, no lar, nas ruas…vivia?!!? Eufemismos para quê?!



Capítulo I – O Acordar

Acordo todos os dias de manhã; nesta cidade nefasta para onde migrei; cheio de sono, aquelas pálpebras pesadas, aquele gosto seco e áspero nas papilas gustativas, aquela vontade imensa de me deslocar para o local onde já me encontro.
Pego em mim e em todo meu apêndice, baptizado de “corpo” e entrego-me à higiene, essa dádiva do homem moderno.

O trabalho é para mim uma obrigação. Penso por vezes, que nome teria o trabalho se não desse trabalho?! Se não desse aborrecimentos, preocupações, dores de cabeça, enxaquecas…Dêem graças a Deus, os pobres, os ricos chauvinistas, os músicos, os monarcas, os escritores, os filósofos, os historiadores de histórias mal contadas, os desportistas milionários, que estão todos desempregados do trabalho, uns mais que outros!

Capítulo II – Pequeno-almoço

E agora é que são elas! Se todos os caminhos vão dar a Roma, quero então um percurso que me leve até ao emprego sem ter que estar duas horas enclausurado numa gaiola de vidro baço, que inspira e expira monóxido de carbono…mais valia ter morto alguém e estar fechado numa cela de quatro paredes, (ou quatro tectos), ao menos tinha comida e roupa passada…trinta cicatrizes, quarenta tatuagens, uma seringa no braço, hepatite A, B e C, mas a minha vida era simples e eu...talvez feliz. Mas minha mãe, como boa católica que sempre foi, recordou-me infinitas vezes que matar é pecado!
Pecadores são aqueles que roubam a vida alheia?! Quem é o gajo que todos os dias me furta quatro horas de vida no trânsito, que eu MATO-O! Pois roubar também é pecado, segundo a beata de igreja que era a senhora minha mãe, (que Deus a guarde bem guardada).

Que saudades tenho do sossego daquela,
Que rima com bela
Que não é minha nem dela,
Será sempre nossa.

*

Como é possível manter a boa forma física, se tomo o pequeno-almoço todos os dias “sentado de pé”?! Agachado perante uma vitrina de milhentas guloseimas gordurosas que sussurram ao meu ouvido…”come-me …come-me…mastiga-me até ao fim”…e me perturbam com aquele olhar semi-lascivo, quase ordinário.
Lembro-me sempre nesta altura que minha mãe escondia todos os bolos. “A gula é blasfémia em forma viril” – dizia ela!
Gulosos são os padres, que passam o dia a comer hóstias!

Capítulo III – Picar o ponto

Nunca cheguem a horas a lado nenhum! É o meu lema de vida, (pode ser que resulte com a morte). Parece mal! Ao meu patrão por mais incrível que seja, parece-lhe uma falta de respeito eu chegar mais tarde do que os outros. Só sei que li um dia, algures num livro, que é chique chegar atrasado.
As futilidades dominam a sociedade na qual nunca nos conseguimos inserir, e nem de perto perceber.
Começo a trabalhar pelas 9:30 da manhã, sonolento q.b. Estou então apto a inserir dados e mais dados na maldita caixinha branca, (processo que se arrasta pela manhã fora). Acho até que já passei mais tempo com o computador, do que com o meu próprio filho! Bem hajam os psicólogos! Eles servem é para isto, para ouvirem destas lamúrias causadores de traumas que afectam pais e filhos, famílias inteiras arruinadas devido a simples caixinhas brancas, azuis, pretas, às riscas, e nem precisam de ser caixinhas! Por vezes são caixões, com rodas, sem rodas, com antenas, com luzes, de chocolate, de baunilha, com natas, com nicotina, com álcool, com luz, com som, sem som, frios, quentes, duros, moles, enfim…

Perguntei-me um dia, para onde ou para quem iriam todos aqueles dados? Corri todos os guichets da empresa, todos os meus colegas de trabalho; cheguei mesmo a pensar em dirigir-me à administração, mas achei melhor não; em busca de uma resposta. Em vão! Ninguém sabia de nada!
Boas vidas, as das videntes que nos adivinham o futuro tal e qual como nós o desejamos, e nos relatam nosso passado exactamente como foi…E Sabem porquê? Abram a janela e mirem o vosso vizinho. Que vêem na vida dele que não vêem na vossa? Somos todos relativamente iguais, já passámos todos pelo mesmo, um dia. E no fim disto tudo a bruxa ainda nos cobra dinheiro! Sinceramente!
Espero ansiosamente pelo meio-dia. A partir desse momento conto 1800 segundos para zarpar rumo ao almoço. O tempo é tão nosso amigo…faz-nos esquecer coisas amargas, e guarda com ele coisas boas…
Ding-Dong, Ding-Dong!

Capítulo IV – Almoço

Não faço afirmações sobre o conhecimento geral, correndo o risco de me tornar num marginal. Aqui compreenda-se marginal como o indivíduo que não age de acordo com o “psicopoliticamente” correcto.
Faz parte do senso comum o conceito de almoço. Todos sabem o que é, mas ninguém consegue explicá-lo sem ferir a minha pessoa, por isso mesmo não me vou dar ao trabalho de o descrever, tornando-me assim num ser egocêntrico e convencido. Deixo aos leitores menos impressionáveis a possibilidade de criarem imagens sobre a minha hora de almoço e para tal, forneço apenas pequenas pistas do ambiente que me envolve:
1- Zinco
2- Fado
3- Madeira
4- Gordura
5- Nódoas
6- Cruzamento de retinas
7- Água com gás
8- União Económica e Monetária
Um prémio para a melhor refeição romântica de sempre, numa cantina qualquer de uma empresa qualquer, num qualquer lugar do mundo.

Capítulo V – Período pós-traumático

A inércia é inata à minha pessoa. A centrifugação a que o meu estômago é sujeito após uma refeição, leva-me a não chorar por mais! Rebolo-me, contorço-me aconchego-me para longe do meu organismo, e nada!
Se a manhã não é produtiva por eu não querer, a tarde é a ovelha negra da repartição pública. Não sou porque não posso! E esta é a razão mais plausível para me desculpar daquelas situações que não precisam de desculpa. É como ser comunista, só o é, quem pode e quem quer…e mais não digo.

Um psicólogo famoso escreveu um dia que “o perfeccionismo interfere na execução das tarefas”, por isso não me posso queixar, nem o meu chefe me pode censurar. A razão pela qual eu não executo as tarefas que me são solicitadas é por ser demasiado perfeccionista, logo, sou um excelente profissional, consequentemente não posso realizar as tarefas, pois iriam interferir na minha pessoa e anular o meu perfeccionismo. O silogismo só vem por este meio, confirmar a minha pseudo-teoria e a minha suposta doença mental.
Conto sempre pelos dedos, porque não sei fazer contas. Arranjo mnemónicas para tudo, porque sou fraco de cabeça, mas nunca esqueço a minha fixação pelos números ímpares. O meu algarismo favorito é o nove, que me revela as três contas feitas por Deus, (três foi a conta que Deus fez!). Tenho momentos de repetições sistemáticas. A minha vida por vezes, parece uma série matemática a convergir para infinito!
Estou perfeitamente ciente da minha loucura salubre, e não penso sair dela tão cedo.
E por falar em cedo, já passa da hora. Estes pensamentos nómadas e semióticos ocuparam-me toda a tarde. E não me podem culpar de ser calão. Estive de acordo com o pensamento racional dos melhores economistas – “o indivíduo racional é egoísta, através do seu comportamento individual age em prol da comunidade, sempre de acordo com as suas necessidades pessoais”. Se as minhas necessidades se manifestam aparentemente como sinais negativos no meu trabalho diário, mais cedo ou mais tarde elas se revelarão como uma mais valia para toda a comunidade. Os filósofos são o exemplo de como não sou preguiçoso! Pensar também cansa!
O trabalho necessita de ser interiorizado, nada deve ser feito ao acaso, o acaso acontece por si só. Para quê alterar o destino? Para que serve a nossa racionalidade, se não a usamos?
Deus sabe o que faz! Nós é que não sabemos o que havemos de fazer com Deus?!

Capítulo VI – Crepúsculo

Esqueçam tudo o que viram até hoje, esqueçam tudo o que aprenderam. Nada disso é verdade…

Acordei com um mar de gente em meu redor, com uma imensa dor no joelho esquerdo, com a camisa rasgada e levemente ensanguentada…Minha cabeça girava a muitas rotações por minuto e parecia que se esvaziava como uma bóia salva-vidas…curiosa analogia!
O mar de gente pareceu-me demasiado baço ao abrir os olhos! Assustei-me! Não entendi onde estava, nem o que se tinha sucedido com a minha persona non grata?
Ouvia gritos estridentes que me rompiam os tímpanos – Está vivo! Está vivo! Venham ver! É milagre!?
Mas quem diria uma barbaridade destas?! Eu sei que me custa a acordar, mas daí até ser um milagre!
Foi então que me apercebi. Estava dentro de uma igreja. O primeiro Milagre! Olhei ainda mais ao pormenor para uma placa cor de ferrugem espancada pela bondade dos homens, e esta soletrava silenciosamente, Igreja de Santo Adrião! O segundo Milagre! Estava em casa…em casa…finalmente.
De barriga para cima, em respiração tipo pré-parto, mirei o tecto…anjos cor das nuvens com faces rosadas entravam em minha cabeça, ouvia nitidamente o toque das harpas e das flautas a ecoar em meu pensamento. Os contornos aveludados da madeira banhada a ouro ofuscavam-me a vista que ainda me restava…as pequenas estatuetas de crianças sorriam para mim, quase conseguia imaginar meu filho a brincar num jardim à beira-mar…todas as velas que me rodeavam sussurravam um nome, uma bênção e um pedido a Deus. A chama não se apagava até ele ser concretizado…os sons provenientes do majestoso órgão eram como que estrelas cadentes, cada nota era um desejo concedido, cada pauta de música era uma vida que se salvava. As orações que escutava, não as compreendia de todo, mas aconchegavam-me o coração…esse que já batia fraco. De respiração ofegante, passei a um estado de total admiração apática por um mundo tão belo, tão distante…tão desconhecido.
Percebi então, que as orações que ouvia eram para mim…tanta compaixão, tanto amor e auto-altruísmo reunido num só sítio. Não admira que haja falta de amor lá fora. Sim, porque o mundo lá fora não é este. Agora compreendo a beata minha mãe, como ela era boa e compreensiva…como tenho pena de não a ter estimado mais e de a ter acompanhado no seu caminho pela fé…

A fé que temos não tem de estar obrigatoriamente relacionada com algo ou com alguém, a fé tem de provir de nós próprios e transparecer para os demais, só assim se atinge a felicidade e o bem-estar pessoal. A fé não é mais do que o nosso auto-conhecimento e um elevar de auto-estima…é o pai e a mãe que não temos.
Para tal não necessitamos de terceiros, esses só nos abrem os olhos e nos indicam o caminho. Se a areia é movediça para quê pisá-la, quando a ponte está a escassos cem metros, e o guarda da cancela está farto de nos acenar com a mão?!
Aplicando aqui uma memória cinematográfica que acho adequada, “viver não custa, custa é saber viver”.

Capítulo VII – O Assalto

Acudam! Acudam, que me estão a levar tudo!
É espantosa a indiferença da multidão perante a aflição de um só ser igual a todos os outros…

Eram sete e meia da tarde, e eu, fazia o mesmo caminho que faço todos os dias para alcançar o lar, doce lar. O jazigo de gente viva que nos dá vida na metrópole. Era a hora do encantamento. Aquela altura do dia em que nem é de dia, nem é de noite, nem faz frio no Inverno, nem calor no Verão. Aquela hora em que não é noite o suficiente para acender as luzes, mas que já não se enxerga nada com elas apagadas. Quem terá sido o espécimen que inventou esta hora de vácuo? São horas brancas em que os televisores não têm imagem, em que as molduras não têm fotografias…em que os espelhos somente reflectem a tua beleza – Oh Sol que te pões mais uma vez! Antes de tantas outras e depois de outras tantas!

Traazzz!? Levei com qualquer coisa pesada na nuca e quase que desmaiava, ao mesmo tempo que ouvia um berro vindo do fundo de uma masmorra – “Passa para cá tudo, se não te queres aleijar! Relógio, carteira, tudo! E depressa!”
Antes que tivesse reacção para alguma coisa, já estava desmaiado no chão, com outra martelada na cabeça!
Caía lentamente sobre o passeio e antes de me apagar completamente vi uma nuvem de pessoas a correr na minha direcção…vinham de um edifício cor de bruma…seja ela qual for…


Capítulo VIII – A minha vida para além da minha morte

Sabia que podia morrer a qualquer momento, mas sinceramente nunca pensei, nem foi minha intenção morrer desta forma.
Nunca fui um pecador, nem nunca fiz muito mal a ninguém. Não compreendo?!
Vou encarar isto como todas as outras situações da minha vida. Vou encará-lo como uma experiência positiva!
Sei que pouca gente vai sentir realmente a minha falta, e que me vão recordar sempre com amor, carinho, ternura e alguma indiferença…dos fracos não reza a história.
Sei que amanhã de manhã sou notícia de primeira página de alguns jornais mais sarcásticos.
Sei que devia ter vivido mais e que devia ter acreditado mais em mim e em tudo quanto me rodeava…
Sei que vou ter saudades. Não tenho remorsos, rancor, ódio, inveja, nada…nada me possui nem me corrompe…tenho simplesmente saudades…do que foi e do que poderia ter sido…
Sei que estou a morrer num local privilegiado e por isso não sinto a morte com dor.
Sei que morreria feliz se visse agora minha mulher e meu filho.
Sei que sou novo e que ainda tinha muitas inutilidades para fazer.
Sei que sinto não saber nada neste momento, e no entanto prefiro não saber…sinto medo, sinto-me vazio, mas reconfortado por alguém que me segura a nuca como algo sigilosamente em si guardado.

“Não eras feliz…não compreendeste a essência da vida.”

“A vida passava-te ao lado…a felicidade, a sabedoria, a ambição, a fé, a juventude, a liberdade…todas elas te bateram à porta, e tu, não abriste com receio…meu filho…”

Por entre o calor abafado das termas abri os olhos e mirei minha mãe que me segurava a nuca com sua mão esquerda, enquanto me afagava a testa com a sua outra mão quente e gelatinosa…“…Por isso te trouxe de volta para mim…meu filho…porque perdi a fé em ti.”

GR

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O esquecimento por mim

Não há nada de bruto em mim
como por essas que passaram assim assim
e as outras que foram boas.
Porque não quero mais ter mágoas para esquecer,
como é bom recordar
e recordar é viver...

Antes viver que recordar
antes morrer a amar sem memória
se te quero esquecer
é porque atrás de mim virá outra história

Não me culpes pelo desejo
pela gula
pelo olhar
culpa-me antes por não te poder amar...

esquece-me
esquece-me
e ainda para recordares...
...esquece-me ...

O esquecimento por Fernando Pessoa

Ah, a Esta Alma Que Não Arde
AH, a esta alma que não arde .
Não envolve, porque ama,
A esperança, ainda que vã,
O esquecimento que vive
Entre o orvalho da tarde.
E o orvalho da manhã

Esquecimento

Esse de quem eu era e que era meu,
foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tacteio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...
E desde que era meu já me não lembro...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos!...

Florbela Espanca

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

TU DISSESTE[Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]

Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"Tu disseste "...nada"
Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"Tu disseste "...nada"
Eu disse "o que é que isso interessa?"Tu disseste "...nada"



mais fantástica ainda com som...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Estado de Sitio...Sitiado

João Aguardela era em meados de 1990, figura e voz já familiar entre os que seguiam mais de perto os acontecimentos na música portuguesa. Descobrimo-lo nos Sitiados, quando ainda em finais de 80 passaram pelo 5º Concurso de Música Moderna do Rock Rendez Vous. Uma participação de que ficou a memória de uma das suas melhores canções - A Noite - guardada na compilação que recorda os finalistas desse ano (1988). Três anos depois, os Sitiados ganhavam lugar de destaque no panorama pop nacional e a Vida de Marinheiro afirmava-se então como uma das canções mais ouvidas do ano. Tanto, que acabou inscrita na memória de 90. O álbum contudo não se esgotava aí. E logo então, entre alguns momentos do alinhamento, escutavam-se sinais uma clara vontade em procurar outras formas de encarar o fado. A descoberta de novas tecnologias, aliada a um igual interesse pela memória e pela exploração da língua portuguesa (e da poesia) abriram portas a outras experiências, que foi lançando em projectos como a Linha da Frente, A Naifa e Megafone (esta última uma aventura a solo, aqui talvez inscrevendo os títulos mais desafiantes de toda a sua discografia). Morreu ontem, vítima de um cancro. Faria 40 anos em Fevereiro.