sábado, 15 de maio de 2010

A viagem

Durante quantos kilometros consegues chorar?
um viagem inteira?
uma paragem numa bomba de gasolina enquanto o silêncio do motor se apaga e tudo em redor te parece parado?
na abertura da porta de casa onde tudo te lembra o que antes era?
Não sei. choro porque não sei. Choro porque me apetece, porque sou forte, porque não tenho de emoções contidas em lugares escuros.
Choro porque os homens são feitos de papel e eu quero ter um para brincar
Choro porque a minha mão sempre me ensinou que a ternura faz parte do ser
choro porque sim, porque tem de ser...

E como é bom sentir as lágrimas na face enquanto a janela deixa entrar o vento quente de uma noite de verão
sem trânsito
sem barulho
só o rádio me diz as horas
as horas da viagem que resolvi fazer a chorar.

A viagem que decidi fazer depois de deixar de te amar...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A tatuagem

olá - disse.
oi - disseste com um sorriso timidamente engraçado
eu conheco-te? - disse eu com esperança que não falasses.
hmmm...não sei...acho que sim. fomos aranhas noutra vida, eu forniquei-te e comi-te a seguir - disseste com um ar lascivo, rindo e corando ao mesmo tempo.
eu, com um ar de embaraço atónito fiquei sem palavras até que te perguntei - queres fazer uma tatuagem?
e tu - quê?
sim uma tatuagem. eu faço uma e tu outra.
mas porquê? perguntaste.
para comemorar este momento - disse eu euforico!
mas nós não nos conhecemos e uma tatuagem fica para sempre - disseste com um ar semi-preocupado...
consegues guardar uma recordação para sempre? - perguntei.
consigo - disseste com os olhos em ângulo obtuso.
então vamos?
sim - disseste

sexta-feira, 7 de maio de 2010

os sons do teu coração

no teu mundo não há fadas nem duendes,
há perdições em tom de lágrimas que teimam em quase cair
cada vez que falamos
há amores perdidos num passado que já não existe
há melodias improvisadas
pelos pontos brancos do tecto que teimam em querer ser meus amigos,
em pontas soltas de respiração semi-ofegante que nunca pensei ouvir tão próximo de mim...

e assim entrei em ti e tu no outro e todos nós em todos nós
como se fossemos um melhor que cada um outro.
eu ajudo-te a sair daí - disseste...
e perdi-me por momentos num mar de alegrias menos próprias
de tristezas que nem sabia ter
num oceano de palavras silenciosamente angustiantes...
e sem olhar para nada a não ser para ti
(quem quer que fosses!)
improvisei um sorriso mais ou menos teimoso
que ainda permanece
que me embala
que me adormece
que não é mais que a tua mão a segurar-me o colo no leito que um dia julguei i-g-n-o-r-a-n-t-e-m-e-n-t-e ter.

se quero morrer feliz?
quero.
se quero improvisar mais sorrisos?
se quero ouvir o bater de todos os corações deste mundo junto do meu?
não sei...
quanto a mim...enquanto Ser brevemente amado...

...doeu-me, lapidou-me, e devolveu-me...
Obrigado.