quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O meu filho em ti

Achas que a perfeição não se mede pela quantidade de vezes que eu te beijei?
Diz-me se não tiveste arrepios pelo corpo cada vez que te abracei...

Leva-me para um rio gélido e lava-me a cara
o corpo
tira-me todos os pedaços de amor
que ficaram
porque não te quero mais
quero saber quantas vezes eu te beijei para escrever num papel
quero saber quantas vezes me desejaste
para eu contabilizar
todas as vezes que fui amado e não abusado.
quero que escrevas dez vezes que não me amas
para eu nunca me esquecer de tal feito
quero que seja tudo escrito
num contrato celebrado com pompa e circunstância
porque daqui a 100 anos eu morro
e não te quero para mãe da minha infância.

A energia parental que em mim corre
é suficiente para te manter viva
mas não suficiente para criar um filho dentro de ti...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Solidão

Será que a solidão se soma?
se divide
se multiplica?
será que daqui a um ano estarei mais só que hoje?
será que daqui a um ano pensarei que já passei por este sitio que hoje pensei que há um ano já tinha passado por ele?...
Será?
Será que posso pensar em coisas diferentes do habitual sem pensar que estou a errar ...só para ser feliz
será um dia de cada vez
para viver assim fortemente como quem o diz...

O olhar vazio e fúnebre de alguém contrastando com o olhar vazio e lívido...são no fundo a mesma coisa
O almoço com a família é tão perto de mim como a minha mão que janta sozinha...

A tristeza forçada é mais dura que aquela que vem por etapas,
A solidão voluntária é mais leve que aquela que me é forçada
a minha cabeça é tão fascinante
e tão no mesmo ser complexa e complexada...

e então?
rio
choro
amargo
de boca
sem secura
e assim se faz um desabafo
sem grande amargura
assim se revela mais um pouco daquilo que não se conta a ninguém
porque se tem vergonha
assim se traz um pouco de felicidade sem rede
aquele momento que passou por nós há um ano
que é exactamente igual ao de hoje
quando o pensámos na altura
assim se traz mais um pouco de sede
à minha boca sem secura
...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Telhados de vidro

Depois de algo que vem atrás de mim estará sempre alguém que já me passou à frente
na conjugação parva de verbos soltos está a minha nação
eu.
chuto-me enrolado em cocaína vermelha
e perco-me ali...um pouco mais ao fundo...
estás a ver?
levanta mais a cabeça. Estás quase lá
Ergue-te
e dança
como se não te estivesses a molhar por não teres nada a cobrir-te
vem
vem aqui para o pé de mim
abraça-me com toda a força do teu pulso reumático
e deixa-me sentir-te.

Enxuga-te
que estás molhada.
Choveu-te em cima toda a tua vida
e agora?
Agora...seca-te e diz-me qual a sensação
Pavoneia-te como se de uma cadela com o cio se tratasse este momento
e diz-me
diz-me qual é o teu perante mim
o sentimento...

sábado, 15 de maio de 2010

A viagem

Durante quantos kilometros consegues chorar?
um viagem inteira?
uma paragem numa bomba de gasolina enquanto o silêncio do motor se apaga e tudo em redor te parece parado?
na abertura da porta de casa onde tudo te lembra o que antes era?
Não sei. choro porque não sei. Choro porque me apetece, porque sou forte, porque não tenho de emoções contidas em lugares escuros.
Choro porque os homens são feitos de papel e eu quero ter um para brincar
Choro porque a minha mão sempre me ensinou que a ternura faz parte do ser
choro porque sim, porque tem de ser...

E como é bom sentir as lágrimas na face enquanto a janela deixa entrar o vento quente de uma noite de verão
sem trânsito
sem barulho
só o rádio me diz as horas
as horas da viagem que resolvi fazer a chorar.

A viagem que decidi fazer depois de deixar de te amar...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A tatuagem

olá - disse.
oi - disseste com um sorriso timidamente engraçado
eu conheco-te? - disse eu com esperança que não falasses.
hmmm...não sei...acho que sim. fomos aranhas noutra vida, eu forniquei-te e comi-te a seguir - disseste com um ar lascivo, rindo e corando ao mesmo tempo.
eu, com um ar de embaraço atónito fiquei sem palavras até que te perguntei - queres fazer uma tatuagem?
e tu - quê?
sim uma tatuagem. eu faço uma e tu outra.
mas porquê? perguntaste.
para comemorar este momento - disse eu euforico!
mas nós não nos conhecemos e uma tatuagem fica para sempre - disseste com um ar semi-preocupado...
consegues guardar uma recordação para sempre? - perguntei.
consigo - disseste com os olhos em ângulo obtuso.
então vamos?
sim - disseste

sexta-feira, 7 de maio de 2010

os sons do teu coração

no teu mundo não há fadas nem duendes,
há perdições em tom de lágrimas que teimam em quase cair
cada vez que falamos
há amores perdidos num passado que já não existe
há melodias improvisadas
pelos pontos brancos do tecto que teimam em querer ser meus amigos,
em pontas soltas de respiração semi-ofegante que nunca pensei ouvir tão próximo de mim...

e assim entrei em ti e tu no outro e todos nós em todos nós
como se fossemos um melhor que cada um outro.
eu ajudo-te a sair daí - disseste...
e perdi-me por momentos num mar de alegrias menos próprias
de tristezas que nem sabia ter
num oceano de palavras silenciosamente angustiantes...
e sem olhar para nada a não ser para ti
(quem quer que fosses!)
improvisei um sorriso mais ou menos teimoso
que ainda permanece
que me embala
que me adormece
que não é mais que a tua mão a segurar-me o colo no leito que um dia julguei i-g-n-o-r-a-n-t-e-m-e-n-t-e ter.

se quero morrer feliz?
quero.
se quero improvisar mais sorrisos?
se quero ouvir o bater de todos os corações deste mundo junto do meu?
não sei...
quanto a mim...enquanto Ser brevemente amado...

...doeu-me, lapidou-me, e devolveu-me...
Obrigado.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Deus moderno

toca-me como se o teu toque fosse de um deus
toca-me a olhar o sol de frente
e queima os olhos azuis de teu verniz azulado
com que ontem pintaste as unhas frivolas de um bruxo anão
e nunca mais me olhes de frente
porque me vais queimar
e assim como sem querer até nunca mais dizer-te adeus
enterra-me a cabeça na areia molhada e vai-te embora
e diz-me porque gostaste assim tanto
de me amar...

quarta-feira, 31 de março de 2010

O Remanescente

Aquilo que era remanescente,
Já não o é!
Finalizar o eminente,
O fim do que é!

Aqui não já somente, jaz nada de afável.
Ou palavras, mil palavras,
Em tom amigável.
Aqui não jaz nada,
Do que imagino,
Que seja o imaginável!
Pela minha pessoa sou sucumbido.
Até despertar...e errar, e me prostituir,
Para ganhar ânimo...
... Sejamos falsos,
Que temos competências para tal.
Sejamos fúteis,
Sejamos sofríveis,
Sejamos nós,
Porque temos competências para tal!

Critiquem... critiquem,
O que remanesce.
Bocejem... bocejem,
Que meu âmago perece.
Do que era... já nada fica,
Do que é... só me prejudica.
Deixei para trás tudo o que prevalece
Embalem... embalem
Que só assim meu coração adormece...

sexta-feira, 12 de março de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

Poema ao Rapaz Cego

e quando a tua mãe já não te segurar na mão
e te tirar os obstáculos da frente como uma guerreira
e quando já não tiveres ninguém para falar a não ser
a escuridão seca
e quando o teu sorriso parecer despropositado,
àqueles que te Vêem
e quando as tuas mãos entrelaçadas uma na outra
forem o teu único caminho,
pelas apalpadelas diárias da vida.
é assim que vais lembrar todos os dias a tua vida,
todos os dias a tua mãe
e vais ter forças para continuar a sorrir?

Estarei cá para VER.
Infelizmente tu não...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A balada

Embalei o leito em que dormia, com a minha mão esquerda
e adormeci o meu lado direito
Embalei o leito em que sonhava, com a minha mão direita
e adormeci o meu lado sonhador
imaginei tudo tão perfeito
que me deu aquele aperto
aquela "..."
Porque não é preciso rimar para me entenderem
porque não é preciso escrever para rimar
porque os sonhos fazem-se assim mesmo a sonhar.

E se as rimas são perfeitas e despropositadas
as frases são longas e dificeis.
são escadas rolantes em que os pés encravam
em que o oleo derrama para alem das bordas sintéticas
são atalhos mais longos que caminhos
que me trocam a dor dos cravos nas mãos
por pura música para adormecer.

Chega-te para lá que eu quero dormir mais um pouco
e permanecer assim
até que chegue alguém
chega-te para lá que eu quero escrever hoje
para que daqui a um tempo este poema
não seja percebido por ninguém...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

By José Luis Peixoto

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu, depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Comboio do Amor

Sequei o molhado do cabelo na brisa de uma janela do comboio...
e nunca mais me constipei...
meti aquele som de que tu gostas
e empurrei a parte vertical do banco
contra as minhas costas.
Senti que estavas ali e tive esperança
esperança que um dia os teus olhos pudessem ser sempre o espelho do meu gostar
tal como a esperança de ter todos os dias um lugar junto à janela a ver o mar ...
...como meu assento (o aconchego).
Nos dias em que não corro, não transpiro, não olho para ninguem, não faço amor...
São dias que passam sem que nada me viole
são dias de pura contemplação...(em segredo)
mas continuo com a esperança de ter um lugar para me sentar...

O amor não são suspiros, não são lágrimas, não é a negativa de uma alegria contida. Não são "ais" sucessivos em busca de um sorriso pecaminoso que nos excite até à asma orgásmica...
O amor não são carris que nos levam à deriva por paisagens miraculosamente diferentes no mesmo trajecto
O amor não é o amor por si só uma troca de mimos por afecto...

O amor é aquilo que eu sinto que vou sentir toda a minha vida por ti, somente isso.
Independentemente de onde venha, de onde esteja, ou para onde vá no momento a seguir a te ver...
E isso chega para mim.

e para ti?

GR

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A nação

a vida tal qual ela é...é tão cansativa...
a vida tal qual ela é...
é a vida assim mesmo como dor que dói e passa e volta e passa e é cozida e abre e torna a doer até que me deito no chão e não tenho por onde adormecer...
e chove-me em cima
e o sol não aparece
porque tudo o que me mim morre
em ti cresce.
não tenho orgulho na minha pátria
não tenho vontade de fazer nada pela minha nação
tenho uma esperança débil de que haja algo para além do murmurio lento que oiço todos os dias de manhã...que me diz
acorda
levanta-te
vai à vida

...que escolheste...

não essa que querias...não...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010


a última vez que vi a noite, tive de acordar de dia e esperar por ela...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O lado oposto do certo

A prova de que nem sempre o lado oposto do certo será o errado...
...nem sempre o não cumprimento das regras origina uma violação ...
...nem sempre o livro de instruções nos dá tudo o que queremos...ou como queremos...
e foi tão simples quanto mudar o phone direito do ipod para a orelha esquerda e vice versa...experimentem! ouve-se muito mas muito melhor e deixam de escorregar...

factos! sao factos que nos levam a conclusões.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Filha das Ervas por Amália Rodrigues

Sou filha das ervas
Nelas me criei
Comendo-as azedas
Todas que encontrei
Atrás das formigas
Horas que passei
Sou filha das ervas
E pouco mais sei!


por homenagem

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sonha comigo

Sonhas comigo quantas noites por sonho?
sonhas comigo desde que acordas até que te deitas?
sonhas comigo acordada?
sonhas comigo durante a minha madrugada?
sonhas comigo a sorrir?
sonhas comigo a chorar?
sonhas comigo desde manhã até ao deitar?

sonha alegremente por entre manhãs de glória gelifica, sonha comigo como quem sonha com uma beldade amargurada, sonha comigo e liberta-te de todos os desaires desastrosos que levas na mão...sonha comigo e pede-me perdão...porque meu olhar é medonho e tu tens medo de mim...sonha comigo e pede-me desculpa por me teres magoado assim...
...no sonho.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Bella Lugosi


Hoje quando estava junto com os meus colegas a fazer o orçamento de estado de 2010 e a ouvir uma remix de Felix da Housecat para o clássico de Bauhaus "Bella Lugosi is Dead", lembrei-me de pegar nas coisas e dizer a toda a gente - "até amanhã" com um sorriso enorme estampado no rosto.

Existe uma opção na minha vida que se define como: "sensibilidade às letras Maiusculas/minisculas"

até amanhã *

domingo, 3 de janeiro de 2010

Domingo

eu sou aquilo que vivo...
se não sou mais é porque não vivo mais...
se não sou nada ainda é porque...

...na minha vida trabalhamos ao Domingo