sábado, 28 de fevereiro de 2009

exercicio

é preciso ser muito bom naquilo que fazemos
para fazermos bem aquilo que não gostamos de fazer...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O destino...

Quando se espera demais do destino,
Quando este nos foge a pés juntos
ou nos prega rasteiras...
de quem é a culpa??

Quando nos iludimos com pequenas coisas
e deixamos de pensar grande
e olhamos em volta e já nada é, como era
de quem é a culpa?

Quando nos repetimos vezes sem conta pela manhã
Quando nos deitamos ansiando sempre o mesmo
e pela noite esse mesmo não está lá...ainda...
Em quem metemos as culpas?

Espero compreender um dia o sentido da vida
tal e qual ela é.
Sem opções, sem esconderijos,
Sem traições, sem porquês,
Sem me desviar daquilo que quero...
ou que penso querer.
Um dia esta nuvem negra irá desaparecer...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

quem diria ...

...que o amor partilhado é o amor perfeito...
que a imagem na minha cabeça
não é a mesma que se deita no meu leito...
que tu e eu somos nós
e que nós somos só um
e só um não somos nada
e sem nada
não chegamos a lado nenhum...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A...

...Minha Poesia,
O meu Manto,
A minha Alegria,
A minha Dor,
A minha Fé,
O meu Amor...
Aquilo que já Foi
E aquilo que ainda É...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Almost there


Soma das Partes


Encontrei em todo o lado
Para onde não olhei
Pedaços de mim …perdidos
Pelo talvez – seja chamado chão…
Ou não …
Bamboleava-me silenciosamente entre eles
Tentando apanhá-los…e …
Não consegui…
Não queria!
Ansiosamente dancei entre mim e o que de mim restava
Até uma próxima madrugada…
…fiz-me à estrada com todos os meus eus na bagageira.
E sem querer parecer petulante
Levei-me aos quatro cantos do mundo…
Em cada canto juntei uma parte de mim…
Porque se um era egoísmo passou a ser dádiva
Porque se um era inveja passou a ser altruísmo
Porque se um era raiva passou a ser alegria
Porque se um era parte, passou a ser o todo…


Voltei a casa para comemorar e não estava ninguém…
Estão todos comigo…
Fiquei feliz assim meu amigo…

GR

Orquídeas

Quando nos pedem para sonhar
geralmente nem conseguimos dormir
Quando nos pedem para cerrar os olhos
Ficamos despertos.
Quando nos pedem muito algo
não exigimos mais do que a vontade de o conseguir fazer...
Para que serve a vontade
se a nossa vontade é outra
Para que serve uma chave ...se só tenho uma janela
Para que serves tu?
...se eu gosto é dela...
...e dela...
...e de outra...
...que não és tu...

Oh infestante que me morres aos pés,
vezes -
e vezes sem conta
que o que não faço com amor
não conta!

Se tenho chegado sempre tarde a tudo
desta vez não cheguei cedo...
cheguei em hora errada
porque ainda não és árvore
não és planta
não és flor
não és nada...

Se entretanto murchares por falta de pensamento
não te preocupes...
Se murchares por falta de abrigo
não te preocupes...
Se murchares por falta de amizade
não te preocupes...
Se murchares por falta de sorrisos
não te preocupes...
Se murchares por falta de lágrimas
...não te preocupes ...
Se murchares por falta de amor...

...afasto-me lentamente de ti...para sempre...e...

...pego em água e meto-a no regador...

GR

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

As sem razões do amor


Eu te amo porque te amo
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.


Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.

Amor foge a dicionáriose
a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Um dia


Um dia estava à janela e ouvi,
um dia estava à janela e vi
todas aquelas pessoas que passaram por ali
como sons ressonantes
no meu ecoar matinal,
um dia não são dias
afinal…

um dia tu chegaste.
Encantaste-me com teus olhos muito abertos,
com teus encantos murmurantes,
daqui a nada…nada será como dantes

Cria em mim isso que pensas
cria em mim palpitações densas
como num ataque de ansiedade,
cria-me sorrisos
cria-me choros
nunca saudade.

Ataca-me por trás e diz que me mataram!
Porque assim escaparás
De penitências
Mal distribuídas.
Vamos então jogar paciências
Ou jogar às escondidas.

Tu vais para um local onde eu não te encontre
E tu escondes-me num local, que saibas sempre onde estou…

Pode ser que um dia saiba que esse dia afinal nunca acabou…

GR

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém......

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Mário de Sá Carneiro

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Há quanto tempo não olhas para cima?


Obrigatório Visitar!

http://www.gargantadaserpente.com/

“Um dia na vida do Homem que nunca reza”

Preâmbulo

São expurgações cutâneas de momentos catalíticos…são catarses eufóricas e diárias que preenchem a vida do homem que nunca reza…



Prefácio (por mim)

…Era uma vez um ser, de nome “Homem sem Fé”, que passava os dias a transpirar. Pelos seus poros saíam como que agonias, pelas horas de stress apático que vivia…no trabalho, no lar, nas ruas…vivia?!!? Eufemismos para quê?!



Capítulo I – O Acordar

Acordo todos os dias de manhã; nesta cidade nefasta para onde migrei; cheio de sono, aquelas pálpebras pesadas, aquele gosto seco e áspero nas papilas gustativas, aquela vontade imensa de me deslocar para o local onde já me encontro.
Pego em mim e em todo meu apêndice, baptizado de “corpo” e entrego-me à higiene, essa dádiva do homem moderno.

O trabalho é para mim uma obrigação. Penso por vezes, que nome teria o trabalho se não desse trabalho?! Se não desse aborrecimentos, preocupações, dores de cabeça, enxaquecas…Dêem graças a Deus, os pobres, os ricos chauvinistas, os músicos, os monarcas, os escritores, os filósofos, os historiadores de histórias mal contadas, os desportistas milionários, que estão todos desempregados do trabalho, uns mais que outros!

Capítulo II – Pequeno-almoço

E agora é que são elas! Se todos os caminhos vão dar a Roma, quero então um percurso que me leve até ao emprego sem ter que estar duas horas enclausurado numa gaiola de vidro baço, que inspira e expira monóxido de carbono…mais valia ter morto alguém e estar fechado numa cela de quatro paredes, (ou quatro tectos), ao menos tinha comida e roupa passada…trinta cicatrizes, quarenta tatuagens, uma seringa no braço, hepatite A, B e C, mas a minha vida era simples e eu...talvez feliz. Mas minha mãe, como boa católica que sempre foi, recordou-me infinitas vezes que matar é pecado!
Pecadores são aqueles que roubam a vida alheia?! Quem é o gajo que todos os dias me furta quatro horas de vida no trânsito, que eu MATO-O! Pois roubar também é pecado, segundo a beata de igreja que era a senhora minha mãe, (que Deus a guarde bem guardada).

Que saudades tenho do sossego daquela,
Que rima com bela
Que não é minha nem dela,
Será sempre nossa.

*

Como é possível manter a boa forma física, se tomo o pequeno-almoço todos os dias “sentado de pé”?! Agachado perante uma vitrina de milhentas guloseimas gordurosas que sussurram ao meu ouvido…”come-me …come-me…mastiga-me até ao fim”…e me perturbam com aquele olhar semi-lascivo, quase ordinário.
Lembro-me sempre nesta altura que minha mãe escondia todos os bolos. “A gula é blasfémia em forma viril” – dizia ela!
Gulosos são os padres, que passam o dia a comer hóstias!

Capítulo III – Picar o ponto

Nunca cheguem a horas a lado nenhum! É o meu lema de vida, (pode ser que resulte com a morte). Parece mal! Ao meu patrão por mais incrível que seja, parece-lhe uma falta de respeito eu chegar mais tarde do que os outros. Só sei que li um dia, algures num livro, que é chique chegar atrasado.
As futilidades dominam a sociedade na qual nunca nos conseguimos inserir, e nem de perto perceber.
Começo a trabalhar pelas 9:30 da manhã, sonolento q.b. Estou então apto a inserir dados e mais dados na maldita caixinha branca, (processo que se arrasta pela manhã fora). Acho até que já passei mais tempo com o computador, do que com o meu próprio filho! Bem hajam os psicólogos! Eles servem é para isto, para ouvirem destas lamúrias causadores de traumas que afectam pais e filhos, famílias inteiras arruinadas devido a simples caixinhas brancas, azuis, pretas, às riscas, e nem precisam de ser caixinhas! Por vezes são caixões, com rodas, sem rodas, com antenas, com luzes, de chocolate, de baunilha, com natas, com nicotina, com álcool, com luz, com som, sem som, frios, quentes, duros, moles, enfim…

Perguntei-me um dia, para onde ou para quem iriam todos aqueles dados? Corri todos os guichets da empresa, todos os meus colegas de trabalho; cheguei mesmo a pensar em dirigir-me à administração, mas achei melhor não; em busca de uma resposta. Em vão! Ninguém sabia de nada!
Boas vidas, as das videntes que nos adivinham o futuro tal e qual como nós o desejamos, e nos relatam nosso passado exactamente como foi…E Sabem porquê? Abram a janela e mirem o vosso vizinho. Que vêem na vida dele que não vêem na vossa? Somos todos relativamente iguais, já passámos todos pelo mesmo, um dia. E no fim disto tudo a bruxa ainda nos cobra dinheiro! Sinceramente!
Espero ansiosamente pelo meio-dia. A partir desse momento conto 1800 segundos para zarpar rumo ao almoço. O tempo é tão nosso amigo…faz-nos esquecer coisas amargas, e guarda com ele coisas boas…
Ding-Dong, Ding-Dong!

Capítulo IV – Almoço

Não faço afirmações sobre o conhecimento geral, correndo o risco de me tornar num marginal. Aqui compreenda-se marginal como o indivíduo que não age de acordo com o “psicopoliticamente” correcto.
Faz parte do senso comum o conceito de almoço. Todos sabem o que é, mas ninguém consegue explicá-lo sem ferir a minha pessoa, por isso mesmo não me vou dar ao trabalho de o descrever, tornando-me assim num ser egocêntrico e convencido. Deixo aos leitores menos impressionáveis a possibilidade de criarem imagens sobre a minha hora de almoço e para tal, forneço apenas pequenas pistas do ambiente que me envolve:
1- Zinco
2- Fado
3- Madeira
4- Gordura
5- Nódoas
6- Cruzamento de retinas
7- Água com gás
8- União Económica e Monetária
Um prémio para a melhor refeição romântica de sempre, numa cantina qualquer de uma empresa qualquer, num qualquer lugar do mundo.

Capítulo V – Período pós-traumático

A inércia é inata à minha pessoa. A centrifugação a que o meu estômago é sujeito após uma refeição, leva-me a não chorar por mais! Rebolo-me, contorço-me aconchego-me para longe do meu organismo, e nada!
Se a manhã não é produtiva por eu não querer, a tarde é a ovelha negra da repartição pública. Não sou porque não posso! E esta é a razão mais plausível para me desculpar daquelas situações que não precisam de desculpa. É como ser comunista, só o é, quem pode e quem quer…e mais não digo.

Um psicólogo famoso escreveu um dia que “o perfeccionismo interfere na execução das tarefas”, por isso não me posso queixar, nem o meu chefe me pode censurar. A razão pela qual eu não executo as tarefas que me são solicitadas é por ser demasiado perfeccionista, logo, sou um excelente profissional, consequentemente não posso realizar as tarefas, pois iriam interferir na minha pessoa e anular o meu perfeccionismo. O silogismo só vem por este meio, confirmar a minha pseudo-teoria e a minha suposta doença mental.
Conto sempre pelos dedos, porque não sei fazer contas. Arranjo mnemónicas para tudo, porque sou fraco de cabeça, mas nunca esqueço a minha fixação pelos números ímpares. O meu algarismo favorito é o nove, que me revela as três contas feitas por Deus, (três foi a conta que Deus fez!). Tenho momentos de repetições sistemáticas. A minha vida por vezes, parece uma série matemática a convergir para infinito!
Estou perfeitamente ciente da minha loucura salubre, e não penso sair dela tão cedo.
E por falar em cedo, já passa da hora. Estes pensamentos nómadas e semióticos ocuparam-me toda a tarde. E não me podem culpar de ser calão. Estive de acordo com o pensamento racional dos melhores economistas – “o indivíduo racional é egoísta, através do seu comportamento individual age em prol da comunidade, sempre de acordo com as suas necessidades pessoais”. Se as minhas necessidades se manifestam aparentemente como sinais negativos no meu trabalho diário, mais cedo ou mais tarde elas se revelarão como uma mais valia para toda a comunidade. Os filósofos são o exemplo de como não sou preguiçoso! Pensar também cansa!
O trabalho necessita de ser interiorizado, nada deve ser feito ao acaso, o acaso acontece por si só. Para quê alterar o destino? Para que serve a nossa racionalidade, se não a usamos?
Deus sabe o que faz! Nós é que não sabemos o que havemos de fazer com Deus?!

Capítulo VI – Crepúsculo

Esqueçam tudo o que viram até hoje, esqueçam tudo o que aprenderam. Nada disso é verdade…

Acordei com um mar de gente em meu redor, com uma imensa dor no joelho esquerdo, com a camisa rasgada e levemente ensanguentada…Minha cabeça girava a muitas rotações por minuto e parecia que se esvaziava como uma bóia salva-vidas…curiosa analogia!
O mar de gente pareceu-me demasiado baço ao abrir os olhos! Assustei-me! Não entendi onde estava, nem o que se tinha sucedido com a minha persona non grata?
Ouvia gritos estridentes que me rompiam os tímpanos – Está vivo! Está vivo! Venham ver! É milagre!?
Mas quem diria uma barbaridade destas?! Eu sei que me custa a acordar, mas daí até ser um milagre!
Foi então que me apercebi. Estava dentro de uma igreja. O primeiro Milagre! Olhei ainda mais ao pormenor para uma placa cor de ferrugem espancada pela bondade dos homens, e esta soletrava silenciosamente, Igreja de Santo Adrião! O segundo Milagre! Estava em casa…em casa…finalmente.
De barriga para cima, em respiração tipo pré-parto, mirei o tecto…anjos cor das nuvens com faces rosadas entravam em minha cabeça, ouvia nitidamente o toque das harpas e das flautas a ecoar em meu pensamento. Os contornos aveludados da madeira banhada a ouro ofuscavam-me a vista que ainda me restava…as pequenas estatuetas de crianças sorriam para mim, quase conseguia imaginar meu filho a brincar num jardim à beira-mar…todas as velas que me rodeavam sussurravam um nome, uma bênção e um pedido a Deus. A chama não se apagava até ele ser concretizado…os sons provenientes do majestoso órgão eram como que estrelas cadentes, cada nota era um desejo concedido, cada pauta de música era uma vida que se salvava. As orações que escutava, não as compreendia de todo, mas aconchegavam-me o coração…esse que já batia fraco. De respiração ofegante, passei a um estado de total admiração apática por um mundo tão belo, tão distante…tão desconhecido.
Percebi então, que as orações que ouvia eram para mim…tanta compaixão, tanto amor e auto-altruísmo reunido num só sítio. Não admira que haja falta de amor lá fora. Sim, porque o mundo lá fora não é este. Agora compreendo a beata minha mãe, como ela era boa e compreensiva…como tenho pena de não a ter estimado mais e de a ter acompanhado no seu caminho pela fé…

A fé que temos não tem de estar obrigatoriamente relacionada com algo ou com alguém, a fé tem de provir de nós próprios e transparecer para os demais, só assim se atinge a felicidade e o bem-estar pessoal. A fé não é mais do que o nosso auto-conhecimento e um elevar de auto-estima…é o pai e a mãe que não temos.
Para tal não necessitamos de terceiros, esses só nos abrem os olhos e nos indicam o caminho. Se a areia é movediça para quê pisá-la, quando a ponte está a escassos cem metros, e o guarda da cancela está farto de nos acenar com a mão?!
Aplicando aqui uma memória cinematográfica que acho adequada, “viver não custa, custa é saber viver”.

Capítulo VII – O Assalto

Acudam! Acudam, que me estão a levar tudo!
É espantosa a indiferença da multidão perante a aflição de um só ser igual a todos os outros…

Eram sete e meia da tarde, e eu, fazia o mesmo caminho que faço todos os dias para alcançar o lar, doce lar. O jazigo de gente viva que nos dá vida na metrópole. Era a hora do encantamento. Aquela altura do dia em que nem é de dia, nem é de noite, nem faz frio no Inverno, nem calor no Verão. Aquela hora em que não é noite o suficiente para acender as luzes, mas que já não se enxerga nada com elas apagadas. Quem terá sido o espécimen que inventou esta hora de vácuo? São horas brancas em que os televisores não têm imagem, em que as molduras não têm fotografias…em que os espelhos somente reflectem a tua beleza – Oh Sol que te pões mais uma vez! Antes de tantas outras e depois de outras tantas!

Traazzz!? Levei com qualquer coisa pesada na nuca e quase que desmaiava, ao mesmo tempo que ouvia um berro vindo do fundo de uma masmorra – “Passa para cá tudo, se não te queres aleijar! Relógio, carteira, tudo! E depressa!”
Antes que tivesse reacção para alguma coisa, já estava desmaiado no chão, com outra martelada na cabeça!
Caía lentamente sobre o passeio e antes de me apagar completamente vi uma nuvem de pessoas a correr na minha direcção…vinham de um edifício cor de bruma…seja ela qual for…


Capítulo VIII – A minha vida para além da minha morte

Sabia que podia morrer a qualquer momento, mas sinceramente nunca pensei, nem foi minha intenção morrer desta forma.
Nunca fui um pecador, nem nunca fiz muito mal a ninguém. Não compreendo?!
Vou encarar isto como todas as outras situações da minha vida. Vou encará-lo como uma experiência positiva!
Sei que pouca gente vai sentir realmente a minha falta, e que me vão recordar sempre com amor, carinho, ternura e alguma indiferença…dos fracos não reza a história.
Sei que amanhã de manhã sou notícia de primeira página de alguns jornais mais sarcásticos.
Sei que devia ter vivido mais e que devia ter acreditado mais em mim e em tudo quanto me rodeava…
Sei que vou ter saudades. Não tenho remorsos, rancor, ódio, inveja, nada…nada me possui nem me corrompe…tenho simplesmente saudades…do que foi e do que poderia ter sido…
Sei que estou a morrer num local privilegiado e por isso não sinto a morte com dor.
Sei que morreria feliz se visse agora minha mulher e meu filho.
Sei que sou novo e que ainda tinha muitas inutilidades para fazer.
Sei que sinto não saber nada neste momento, e no entanto prefiro não saber…sinto medo, sinto-me vazio, mas reconfortado por alguém que me segura a nuca como algo sigilosamente em si guardado.

“Não eras feliz…não compreendeste a essência da vida.”

“A vida passava-te ao lado…a felicidade, a sabedoria, a ambição, a fé, a juventude, a liberdade…todas elas te bateram à porta, e tu, não abriste com receio…meu filho…”

Por entre o calor abafado das termas abri os olhos e mirei minha mãe que me segurava a nuca com sua mão esquerda, enquanto me afagava a testa com a sua outra mão quente e gelatinosa…“…Por isso te trouxe de volta para mim…meu filho…porque perdi a fé em ti.”

GR

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O esquecimento por mim

Não há nada de bruto em mim
como por essas que passaram assim assim
e as outras que foram boas.
Porque não quero mais ter mágoas para esquecer,
como é bom recordar
e recordar é viver...

Antes viver que recordar
antes morrer a amar sem memória
se te quero esquecer
é porque atrás de mim virá outra história

Não me culpes pelo desejo
pela gula
pelo olhar
culpa-me antes por não te poder amar...

esquece-me
esquece-me
e ainda para recordares...
...esquece-me ...

O esquecimento por Fernando Pessoa

Ah, a Esta Alma Que Não Arde
AH, a esta alma que não arde .
Não envolve, porque ama,
A esperança, ainda que vã,
O esquecimento que vive
Entre o orvalho da tarde.
E o orvalho da manhã

Esquecimento

Esse de quem eu era e que era meu,
foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tacteio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...
E desde que era meu já me não lembro...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos!...

Florbela Espanca