terça-feira, 2 de outubro de 2007

Partes de Uma Vida



Preâmbulo

Ao narrarmos uma situação tão pessoal como a nossa própria vida, ou parte dela, por vezes omitimos determinados detalhes ou pormenores que poderiam ter alterado tudo o que foi a nossa própria vida…ou parte dela…

Ignorando os detalhes, o que sobrevive? Fica aquilo que realmente se passou aos olhos do contador de histórias, que sou eu mesmo. E que forma mais imediata de contar uma história descuradamente bela e simples que imputar aos meus dias, passados e presentes (nunca futuros), pedaços de versos desnudados e prosas silenciosamente despidas…de tudo. O que foi, será dito, e o que será, não sei, a tal não me permito!

…Cada minuto será uma letra, cada hora será uma palavra, cada dia um verso, cada mês uma estrofe, cada ano um poema, e toda a minha vida será então a poesia…

A minha pessoa passará repentinamente do eu para “o nós”, dependendo do meu alter-ego. Serei o mais impreciso possível para que todos sejamos obrigados a pensar, a pensar sim…a pensar…a imaginar, congeminações artificiais, ser aquilo que eu quero que vocês pensem ser. Nada mais que isso.

Nada passará por mim impune…nenhuma tristeza, nenhuma alegria, nenhum amor ficará para trás, e porque a repetição é poética, repetiremos vezes sem conta até cansar, adormecer, sonhar e acordar…para uma nova vida.


I – O Nascimento e a Aprendizagem

Nada mais belo que acordar de um sonho, para a vida, directamente do leito materno…

O Sonho

Eu, e só eu, só,

Posso ter,

Posso ser,

Tal como tal mó

Que me esmaga o peito,

Que me cobre no leito,

Me refugia do sono

E, me leva na viagem,

Sem retorno,

Onde tudo é pura paisagem.

Por entre tal sonho,

Desperto!

Num olhar medonho,

Em lugar incerto,

Sem máscaras de fantasia,

Nem fugas à melancolia,

Meu olhar, é teu olhar,

Minha voz, é tua voz,

E nós...olhando,

Fixamente,

Loucamente,

Olhos nos olhos,

Tentamos descobrir,

Sem tentar fugir,

Onde estamos,

Para onde vamos,

Quando regressamos.

É longa a hibernação,

De tal realidade,

É boa a recordação,

Desta sóbria liberdade.

Incrédula talvez!

Repleta de porquês,

Questões sem resposta,

Perguntas que ninguém gosta,

Tudo respondido num momento,

Num curto espaço de tempo,

Sem dor, nem tormento

Com alegria e alento.

Poderás então dizer...

Porque é que a vida não é toda um sonho, e nós, simples personagens divagando leve, levemente por entre pensamentos alheios, sem preocupações ou indagações, onde reinaria a loucura da existência e a morte não seria mais que uma fraca aparência... mas não! Por entre todos os caminhos desta vida são poucos os momentos onde tudo é belo, onde estarmos sós é sermos felizes...já não estou só agora…sou eu e vocês todos!

...Escassas canções de amor,

Repletas de ardor,

E, difíceis são aquelas,

Que por mais belas,

Nunca, mas nunca, nos fazem esquecer a dor.

Aprender

Não tenho nada a aprender

Sobre assuntos que domino.

Não quero aprender sobre nada

Que já sei...

...e não me fascino

Sabendo que o que sei

Aprendi!!

E não vale a pena

Saber mais que isso,

Pois o que já sei

Sobre aquilo que aprendi

Chega para saber sobre

Tudo quanto sei,

Porque aprendi!?

Continuo, no entanto,

A querer saber mais

Sobre coisas que nunca

Hei-de saber o que são,

Porque ninguém mas ensinou!

Talvez por isso queira saber,

Não é curiosidade!

É matar aquela ansiedade

De saber que o saber

Não ocupa lugar

E contudo,

Ter medo de perguntar

A quem sabe…

Que me ensine.

Ando há já alguns anos

A aprender ensinamentos

Que me tentam ensinar,

Sobre lições de assuntos

Que não me interessam

Aprender!!

Julgo estar enganado

Mais uma vez...

Porque ninguém me disse

Se estava certo ou não!

Ninguém ainda me ensinou

A aprender que,

A mágoa se leva no peito

Quando algo nos toca a melancolia

E nos deixa

De purgatório desfeito!?

Ignaros somos,

Humanos somos,

Pelos provérbios absurdos

Que circulam por aí,

Ruas os perseguem

Onde errar é humano.

Não sejamos hipócritas!!!

Que quem conta para

Cá ficar depois de...

Já cá não estar,

São os sábios “anamnésicos”

Que fingiram toda a vida

Não saber aprender,

Para não terem de ensinar

A alguns como eu,

Que esperam um dia

Ensinar que...

O que aprendi não chegou

Para agradar aos traidores.

Então fiquei-me pela experiência

Que me levou longe,

Mas não tão longe quanto queria,

Não aprendi tanto

Quanto sabia!

Porque nunca se sabe mais,

Do que aquilo que nunca,

Nem ninguém, tem a ousadia

De nos ensinar!

E quando o egoísmo bate à porta,

E nós timidamente pelo buraco da fechadura,

Espreitamos.

Saberemos porque nos

Ensinaram que mentir

É feio...

E mais uma vez sei-o

Porque tenho um livro

Que não li,

E que me ensinava...se o lesse,

Que palavras escritas

Por linhas em branco ateu

Opaco de negro besuntado!

Diziam-me que antes de aprender...

Quero ser ensinado,

Por alguém que saiba menos que eu!

*

Nascemos aprendemos e crescemos, pouco…ainda com muito pela frente…

II – A Vida tal e qual ela é!

Nada de redundâncias, nem fingimentos…é a vida no seu expoente máximo. É a adolescência amotinada de um qualquer personagem, as suas dúvidas, os seus erros, os seus perdões, as suas desculpas para viver.

As pequenas coisas que nos fazem sorrir, as grandes coisas que nos fazem chorar, aquelas coisas que não fazem coisa alguma, mas que têm de estar aqui. E as que nos fazem pensar…sim…pensar.

Penso...Logo...Existo???

Garantia ambígua nos dão,

Aquando de nosso nascimento,

Certeza de caixão,

Crédito de sofrimento.

Pecados morais,

E desejos criados,

Fins mortais,

Para tão grandes pecados.

São poemas como este,

Que me estão a enlouquecer,

Há dias como este,

Em que só penso em morrer.

*

Nada de catarses, nem nada demasiado pesaroso, não quero martirizar almas pecaminosas, nem fazer ninguém pensar sobre o que deveria ter sido. São só aconchegos no coração de quem sente. Os turbilhões que andam em nós…as dúvidas existenciais.

Hoje, Ontem, Amanhã

Hoje é hoje!

E mais nenhum dia poderia eu estar

A escrever este poema...

Ontem foi ontem!

Estava feliz!

Por favor não contem,

Porque hoje estou infeliz!

Quero relembrar mais uma vez,

Que amanhã será outro dia,

Depois de hoje,

Igual a tristeza,

Poderá vir a alegria,

Ou pelo menos a beleza.

E indago-vos espectadores silenciosos;

Porque haverá dias assim?

Ninguém me responde,

Também ninguém está aqui,

Aqui onde estou,

Estou só,

Ninguém cá ficou,

Para de mim ter dó...

E acabo este poema com um pedido,

Pois comecei-o com uma oferta,

Não me fechem todas as portas,

Deixem-me ao menos uma aberta.

*

As dúvidas sociais…

Acho...

Por causas justas que padecemos nós?

Muito pouco, acho...

Por milagres esperamos todos?

Sim, acho que sim...

Por mentiras estamos governados?

Claro, acho...

Por verdades não estamos rodeados?

Não, acho...

O que seremos nós então?

Um sonho,

Um pesadelo,

Um monstro,

Uma miragem...

Mendigos da morte, fartos da vida?!

Acho...

*

Depois da amotinação vem o cumprimento cívico, o levantar da bandeira…das cores da bandeira.

Cores

Ontem...foi um dia azul,

Emigrei daqui,

E fui rumo ao sul...

O sul afinal era branco...

...parti de novo...

Enrolado no meu manto,

Porque no norte...faz vento...

O norte é cinzento...

...enganei-me !!...lá em cima...

Cai gelo...afinal o norte...

É amarelo.

...e não é feio...

...mas belo.

Fiquei pasmado.

Quando cheguei ao centro... este...

Era encarnado.

Vermelho cor de fogo...

Fogo da guerra...

O centro era no fim violeta,

E lá eu lutava com minha baioneta,

Dava tiros cor-de-rosa...

...transformava todos os poemas...

...em prosa...

Declamava textos para

Todo o rebanho...

Ficava à espera que surgisse

O castanho...

Mas afinal apareceu o roxo,

Trazido por um soldado,

Um magala frouxo...

Que nem estava a lutar,

Nem a pátria defendia

Estava no entanto feliz...

Todo vestido de cor anis

... disse que tinha ido para a tropa

...não para lutar

Queria ver somente o céu laranja

Queria somente almoçar

...o frango assado e a canja...

...ri-me da sua cara...

Ou melhor, ri-me na sua face !!

Verde ou cor de alface.

Afinal tinha razão,

A guerra tinha acabado

E eu nem tinha dado por isso…

...fiquei só...

...com aquele olhar submisso...

...a ver a banda cantar vitória,

A ver os mortos a enterrar,

A ver os olhos manchados da glória,

E as viúvas a chorar.

As damas vestidas de preto,

Toda a multidão vestiu o preto,

Para ouvir a banda tocar,

A marcha,

No coreto.

*

A nossa casa…casa onde acolhemos os nossos amigos, a nossa família o nosso amor.

A minha casa

Há já algum tempo,

Que constatei a situação,

Tenho vindo a escrever poemas,

Sem nexo...

...e foi desde que,

Por detrás da minha casa,

Construí um anexo.

Tenho quase a certeza disso,

Pois quando comecei a construir a casa

Não fazia sequer uma vaza,

E agora...agora,

Ganho todos os jogos...

Todas as partidas,

Desde que comecei a plantar

Coisas mais floridas,

É verdade!

Fiz um jardim,

Tornei a minha casa numa floresta,

Quero ver se assim,

Alguém vem à minha festa?!!!!

*

Qual a casa que não tem o seu jardim, as suas flores…o adeus aos pais. A maturidade forçada.

O Jardim

Desde que faleceu a última de minhas mães!

Que não me ocupo do jardim...

Desleixo...puro desleixo,

Escrevia já António Aleixo...

Ouvir o cantar dos grilos,

Numa noite de cheio luar,

E não sair de casa,

Nem sequer para respirar,

O ar puro que emana do meu jardim...

Tenho lá cravos,

Papoilas,

Rosas...

E no entanto a buganvília morreu!

Deixei-a morrer.

O quadro agora já não é florido,

É tudo negro!

Um negro esbatido!

O poeta pintou agora,

Um quadro todo negro...

Desleixo...puro desleixo...

Estampado neste quadro que vos deixo.

Paira uma melancolia incontida no ar!

Sinto-a.

E porém não a anulo.

Deixo...por desleixo,

Na minha casa um casulo,

De abelhas,

De vespas...zangões...

Sei lá!!

Desde que não me piquem a mim!?

Há quanto tempo não cuido do meu jardim?!

Tentei já examiná-lo de vários ângulos,

E perspectivas.

Para descobrir partes não mortas...

...ou talvez vivas?!

Em vão...

A sua essência não é

Vestida de conceitos,

Mas sim de coração,

E dos meus feitos!

Dos carinhos que lhe dou,

Do toque potente e protector,

Que o leva a perder o domínio sobre si,

E a deixar cair os espinhos calosos das rosas,

O ardor da urtiga...

E florir para mim!

Insurgiu-me agora uma ideia,

Que talvez não seja de todo descabida?!

Tratar do meu jardim!?

*

O amor que teima em não aparecer…

A Flor e o Amor

I

Um dia ofereceram-me uma flor...

Disseram-me para a guardar...

... Guardei-a...

No dia seguinte ofereceram-me outra flor...

E alguém disse para eu a guardar...

...E eu... Guardei-a...

Passados dois dias as flores secaram...

...Eu... deitei-as fora...

No dia seguinte perguntaram-me pelas flores...

... E eu...

Não as tinha...

...Fiquei envergonhado...

II

Passado um ano...

...Ofereceram-me novamente uma flor...

... E eu guardei-a...

... A flor murchou...

...A flor secou...

...E eu...

...Continuei com ela guardada...

...Passado outro ano...

... Perguntaram-me pela flor...

...E eu...

...Orgulhoso...

...Mostrei a flor...

Seca e murcha.

Fiquei contente.

III

...No ano seguinte...

Ofereceram-me o amor...

...E eu guardei-o.

... O amor...

...Murchou... e eu…

...Deitei-o fora...

...Pediram-me o amor...

... E eu não o dei...

Pudera! Não o tinha.

... No ano seguinte...

Voltaram a dar-me o amor...

... E a flor...

E eu guardei-os...

O amor esse! Fartou-se.

...Murchou, secou... e…

...Fugiu...

A flor ainda a guardo.

IV

...Passado outro ano...

Chegaram-se ao pé de mim.

...E pediram-me a flor...

...E eu, feliz... mostrei-a.

...Em seguida pediram-me o amor...

...E eu, triste... disse que não o tinha...

Não sabia dele...

A flor estava nua... e o amor nem lá estava...

Fiquei indiferente... impávido...sereno...

V

...Passou-se um ano,

Dois,

Três,

Cinco, Dez,

Cem. E...

...Nunca mais ninguém me ofereceu nada...

...Murchei, sequei...

...E...Morri...

Tal como a flor...

...E o amor...

*

Momentos difíceis aqueles que se aproximam…quase que nos levam à loucura. Os vícios, as tentações. Tentando fazer do aparente o que é!

Ilícito

Por cada falso, passo em falso,

Dilato ordens ao meu saber,

Pois andam alvos no meu encalço,

Normas que me querem reger.

Por cada lei em mim ditada,

Penso se poderei ou não cumprir,

E, se por ser ela violada,

O meu choro, vai ser rir.

Por consagrados, e não honrosos,

Actos de pura difamação,

Meus olhos estão orgulhosos,

Pois souberam dizer...não...

*

Quem sou eu na realidade?

Comigo Estou

Encontrei-me.

Perdi-me.

Achei-me novamente.

Largaram-me... Não sei como.

Perderam-me.

Mas eu achei-me.

Ninguém me encontra,

Mas eu estou aqui...

Eu sei de mim.

Eu estou comigo.

Mas ninguém está comigo...

Senão eu.

Só eu sei de mim...

Onde estou, para onde vou.

Saberei?

Ou finjo?

Mentir a mim mesmo, não quero!

Antes morrer a não saber quem sou.

Prefiro que ninguém me veja,

Ninguém me encontre,

Ninguém me descubra,

Ninguém me ache,

A eu não saber quem sou.

Prefiro a solidão do meu eu,

À companhia do vazio...

Prefiro a minha alegre tristeza,

À triste alegria dos outros...

*

A poesia salva-me…momentaneamente.

Pelas linhas que escrevo...

Apagadas estão as linhas,

Por onde o poeta escreve,

À espera de penas de tinta,

Antes que o vento as leve.

Páginas em branco,

Esperando rasgos de som,

Palavras de encanto,

Tornando o mau em algo bom.

Frases feitas ou inacabadas,

Dúvidas, certezas, questões,

A vida é feita,

De tudo e de nadas,

De tristezas e paixões.

*

A boémia, o jogo, as ruelas…perdido…ou talvez não…

Fado da Loucura

Loucura !!!

Acho que estou a ficar louco,

Já não sinto ternura,

E o amor sabe-me sempre a pouco.

E se é fado! Que se cante!

Se não o é,

Que se morra!!

E se é fado! Que se grite!

Se não o é,

Que se cale!!

E se for fado?

Quem o cantará?

E se for fado?

Quem o amará?

É fado com certeza!!!

É triste,

É saudade,

É beleza,

É o fado da minha vida,

... A incerteza...

*

Jogando com o Destino.

O Ás

Aqui estou eu,

Sentado naquilo que é meu,

Com as cartas na mão,

E um só ás no coração.

Aqui estou eu sozinho,

Contente por estar só,

Aqui estou no meu cantinho,

Por favor não tenham dó?!!

Tenho o baralho à minha frente,

Tenho a minha vida na mão,

Tenho a sorte para sempre?!

Talvez sim...Talvez não?

Tenho o ás de copas,

Tenho o ás de espadas,

Tenho amantes

E tenho amadas.

Tenho ainda o ás de ouros,

E o ás de paus,

Tenho os meus momentos bons

E tenho os meus momentos maus.

Lembrem-me por favor,

De ganhar o jogo,

Que ficar com o meu amor,

Que é fogo!!!

É fogo que arde sem se ver,

Onde é que já ouvi isto?

Quero lá saber,

Se não ganhar... desisto!!!

Quero ficar com o meu ás

Quero-o só para mim,

Que noite tão fugaz,

Há muito que já não me sentia assim!!!

Quando será que o jogo acaba!!!?

Quando posso ter o meu ás,

Que já não sinto nada,

E já nada me satisfaz...

Voa

O corpo sente,

O corpo sofre,

O corpo voa...

O fumador embalsamado, vive!

A mente pensa,

A mente chora,

A mente divaga,

Anseios invadem o corpo!

Flutuam corpos,

Voam mentes,

Diz-me onde estás,

Diz-me o que sentes.

Diz-me quem és,

Eu te direi onde estou,

Diz-me quem és,

Eu te direi quem sou.

Olha-me de frente

Olha-me nos olhos

Sente-me como sou

Sente-me e...voa!

Olha, voou!!!

*

A inércia do drogado. Descrita ao pormenor.

Horas brancas

Pelas horas que não contam em minha vida

Todos vêm passar aquilo que eu não vejo,

Enquanto o navio da memória se afunda...

Eu simplesmente...nada!!!?

São horas em branco,

Que levam meu olhar de saudável

A cibernético!

São horas em que estou parado,

São minutos em que não sinto prazer,

São segundos parvos!!!!!

Em que estou simplesmente a fazer...

...nada!

E para atravessar a passadeira

E carregar no acelerador, tenho de

Ter dois pés.

Para levar a mim mesmo

O sólido almoço e o firme jantar tenho de

Ter duas mãos

Mas para que vale ter na minha cabeça a memória,

Se nem sequer me recordo...do que ontem era...

...e do que hoje sou...

Nada tem a ver com isto o que

Até agora disse...

Pois este poema de nada serve

Se a mim não me for útil!

E quando amanhã acordar

E me tornar de novo fútil...

Vou-me recordar...atenção!!!!!

Eu disse recordar!!!!???

Que hoje não fiz, não me

Apeteceu fazer, não fui,

Não me apeteceu ser,

Não quis, não quero,

Não me apetece,

Absolutamente nada...nem coisa alguma!!!!

Depois disto indago algo

Que não vi...e

Não me recordo do que era...

Será algo que nunca me vou lembrar...

Pois para além

De não me recordar...não aconteceu.

E se não aconteceu para mim,

Terá acontecido para alguém...e pode ser

Que me contem, para eu saber,

Senão...de que vale ter dois olhos

Se não vejo televisão,

De que vale saber ler, se não compro o jornal!

Mas porra!!!! Será que se passou mesmo algo

Que eu não sei afinal?!!

São horas brancas

Em que as molduras não têm fotografias.

São horas mortas

Em que os ecrans não têm imagem.

São dias em que ao abrir a porta de casa,

Não vejo ninguém...

Espero...espero...e espero mais um pouco...

Até cambalear, cair, levantar-me, sorrir...e desmaiar.

E assim amanhã quando o vento soprar a meu favor,

Vou ter finalmente algo para contar.

*

Novamente o fado e as ruelas, essas cadelas. O caminho por onde segue o homem cego.

Fado

Fado é saudade,

Fado é ternura,

Alguém tem piedade?

Da minha loucura!

Fado é amor,

Fado é tristeza,

Alguém me dá uma flor?

Por gentileza!

Fado é tudo,

Fado é nada,

Como me iludo!

Quero cantar o fado... de boca calada!?

Ruas

Andando por entre ruas

Perdido de tudo, de todos

Tentando achar, incrédulo

O caminho certo

Tentando não ficar louco

Neste tresloucado mundo,

Onde o obscuro parece ser salvação,

Todos se afogam fundo,

E ninguém te dá uma mão.

Mas se ao longo desta caminhada

Encontrares alguma porta aberta

Não entres,

Pensa antes se essa vida,

Por ti traçada,

Não poderá ser arruinada

Com a simples mudança de rumo,

O corte com o destino,

A ruptura com a felicidade,

Com a alegria,

A entrada no desespero

Sem coração, nem medo,

Com frieza e crueldade,

A entrada noutro mundo, noutra vida,

Onde o irreal se torna real,

Onde o espinho parece rosa

Onde a fantasia te domina,

E a tristeza te fascina,

Onde o pensamento é pouco,

E, por vezes louco.

Mas se a porta estiver fechada,

Não a abras...

A curiosidade é maior que a coragem,

Por vezes, até maior que a vida,

E se nessa viagem,

Pensares como ela te era querida,

E tentares voltar atrás,

E for tarde demais,

É porque o abismo está perto,

Só mais um passo e cais!

Pensas que foste esperto

Que a tua fuga ia dar certo,

Fugir deste mundo é fácil

Mas voltar a ele é complicado,

Há que ser muito hábil

Pensar com cabeça e coração

E tentar dizer que não

Uma simples palavra de três letras,

Que pode marcar toda a tua vida

Pois ela é a única coisa com verdadeiro valor

Para além do amor,

Que deves procurar,

Não noutra vida,

Mas nesta,

Real, mágica, ilusória,

Busca a tua própria vitória !!!...

*

Sinto-me triste.

A tristeza

“Palavras leva-as o vento”.

Não é plágio, não é cópia,

É um começo de quem não sabia como começar,

É uma frase de quem está vazio...

Odioso, feio porco e...sem vontade de chorar.

Depois de ser um homem feliz toda vida,

Apanhei uma rosa e...piquei-me,

Sangrei...sangrei...sangrei até não ter mais sangue em meu corpo...

Até estar seco e possuído,

Até estar triste e fodido!!!

Gritei mas ninguém me ouviu

Gemi, gritei...ah como gritei!

Em gritos silenciosos que puseram

Meus pulmões saborosos,

Com sabor a ar...

E quem estiver agora a fazer contas,

Vai saber que nada vezes nada

É absolutamente tudo.

E eu voltei a respirar...a odiar...

E sem ter ainda vontade de chorar.

Abracei minha mãe e beijei meu pai

E não senti qualquer afecto.

E se me esticar ainda toco com as mãos no tecto.

Que alto e elegante sou!!!

Que bonito queria ser!!!...

E entretanto vou catrapiscando o olho

A esta e àquela para ver se arranjo casamento,

Quero uma moça inteligente, bonita e esperta.

Pois minha mãe sempre me disse para não casar

Que a extinção é certa!!!??

Atingiram-me no coração

Com uma tira de papel,

Foi uma dor tão intensa que não consegui aguentar,

Sangrei, e com alguma, mas, não muita tristeza...

Pus-me a chorar!

*

Há histórias na minha vida que têm um final feliz...esta é uma delas...

Afasia

Troco tudo,

Não me lembro de nada

Do que me dizem!

Troco tudo,

Minha mente está disfarçada,

É o que me dizem!

Toco tambores,

Com violas esquerdinas.

Sou engenheiro,

E limpo latrinas.

Escrevo a lápis,

Num computador qualquer.

Sou casado,

Mas não tenho mulher.

Tenho dois filhos,

Que não são meus,

Não consigo saber seus nomes,

Nem soletrá-los,

Porém vou à escola,

Todos os dias – buscá-los.

Sei que minha mãe,

É minha madrasta,

E meu pai,

Meu tio!

Tenho a capacidade,

De não dizer palavras horas a fio;

Frases feitas,

Personificações, tangentes, hipérboles, sementes...plantadas...

...sentado a teu lado,

Queria dizer coisas bonitas,

Mas obrigam-me a estar calado.

Porquê oh Senhor das porras malditas!!!

Não destruo nada,

Que não consiga construir,

Da minha boca não sai nada,

Senão um mísero grunhir.

Interrogo-me constantemente se deveria ter sido um ser homem,

Com tantos animais faladores!?

Sou um doente...dizem eles...

...porém, não tenho dores!

*

As pessoas começam a falar…de mim…e dos outros.

Boato

Corre por aí um boato,

De que me perdi,

Nas ruas por onde corre

Esse boato!

Andam por aí a dizer,

Que não conheço o sentido da vida,

E a minha pessoa se tornou escura,

Desde que me perdi!

É difícil expressar-me,

Com a repressão que me rodeia,

Tenho medo de ao mínimo toque,

Desfazer a minha teia...

...e cair...

desabar...desabar por um abismo tão sombrio

...que a cegueira,

Se torna uma brincadeira!

Tento não abjudicar de nada,

E soltar-me das amarras.

Sou como um chão acetinado,

Que nunca se abstém

De ser pisado,

Nunca se importa de ser riscado.

Não agravem porém o meu humor,

Pois se sou réu,

Quero ser julgado,

Por um agiota cúmplice,

Mas sem culpa.

Um burlão que me agrave

A pena em 100 anos,

Porque quero admirar a morte de perto,

Disso estou certo!!

Vou fuzilá-la com uma ânsia de vida,

Raptá-la e pedir um resgate absurdo!

Posso estar cego,

Mas não estou surdo.

Posso estar calado,

Mas não estou mudo,

Posso estar errado,

Mas continuo certo...

...E às beatas de igreja,

Desejo-lhes paz de alma,

Aos becos das ruas por onde ando perdido...

Desejo-lhes saídas...que não existem.

A mim não desejo coisa alguma,

Já tenho o que quero.

Só lhes peço...

Que não me subestimem,

Porque eu sou sempre sincero!

*

A quase loucura…

Hospital

Passei hoje o dia inteiro

Esperando a noite chegar.

Quando a noite chegou...fiquei triste.

Não liguem ao que eu digo.

O meu casaco é uma camisola de forças.

Não me interpretem mal,

Mas não tenho morada fixa!

E nunca consigo apanhar,

O mesmo táxi duas vezes!

Porém, nunca pensei que levassem as coisas tão a sério...

E que fizessem delas tanto mistério!

Quando estive na prisão,

Amotinei-me sozinho...

Quando me separaram do átomo,

Fiz a ficção sozinho!

Tive um filho...sozinho...

Pensavam que eu era tresloucado,

Que sofria de alguma perturbação.

Enganaram-se!!!

Puseram-me num manicómio,

E eu era o mais puro dos insanos,

Tiraram-me de lá,

E eu era a santa sanidade!

Cá fora sim!

No enorme hospital psiquiátrico,

Que é a nossa sociedade,

E isto acaba assim.

Porque não tenho mais nada a dizer.

Ponto final,

Parágrafo, travessão!

E pumba!

Bem feito!

Deu-me uma valente dor no lado esquerdo do peito!

Mais precisamente na mão...

Em honra ao hino nacional.

*

Já não vejo nada em meu redor, ou não quero ver. Porém, caminho…em frente.

Cegueira

Vejo.

Não vejo.

Uso óculos,

Tiro os óculos,

Ponho lentes,

Planto sementes,

Tiro as lentes,

Crescem árvores,

Ponho os óculos,

Apanho os frutos...

Do chão...

Respigo na minha escuridão!

*

A verdade não merece castigo! Aqui está o porquê dos meus actos. É pura…

Cobardia

Sempre que me aparece algum obstáculo

Eu desvio-me

Para não ter de o vencer!

Sempre que me aparece um garoto a pedir

Eu desvio-me

Para não ter de lhe dar!

Sempre que me surge a fome

Eu deito-me e adormeço

Para não ter de comer!

Sempre que surge uma curva,

Quando vou a conduzir

Eu vou em frente para não bater!

Erro meu

Erro vosso

Quem vos disse, quem te disse a ti?

Ou a quem vosso avô dizia?

Que é bom.

Desviarmo-nos da cobardia!

Bati!

*

Tive força para mudar…

III – O Amor

A Mudança

Sentei-me três vezes na mesma cadeira...

Testei o encosto,

As pernas,

O tampo da mesa em frente!

De repente tudo me pareceu diferente.

Levantei-me com brusquidão,

E dirigi-me apressadamente à mesa do lado!

Sentei-me três vezes na mesma cadeira,

Que agora apesar de mesma,

Era outra.

Testei o encosto,

As pernas,

E bati três vezes no tampo da mesa em frente!

De repente tudo me pareceu diferente!

Insurgi-me então com uma severidade aparente,

Em direcção a uma terceira mesa...

Onde solenemente,

Dada a minha brutalidade meramente...aparente

Sentei-me três vezes na mesma cadeira.

Pulei três vezes “nessa” cadeira,

Que talvez fosse outra,

Mas que me parecia a mesma,

E talvez fosse a mesma,

Pensando eu ser outra.

Bati com minha mão fogosa,

Três vezes...três batidas cardíacas,

Como um coração destroçado...

Testei a rigidez da mudança,

Porque sempre me disseram

Que a poesia é poética...

E a prosa tética!

Obrigado!

Boquiabertas as pessoas,

Não compreenderam meus passos de semi-dança,

O meu suposto teste,

À mudança!

Donde concluí...eu:

A mudança em redor dos movimentos da própria mudança, não se mexe!

Nunca tal ocorreu...

*

O Mundo Gira

O mundo gira

Em sentido oposto ao meu,

Gira... volta... torna a girar

Gira... em volta do sol,

Em volta de mim.

Gira...

E eu não fico tonto,

Não caio!

Gira... o mundo gira...sou eu que o mando girar.

E não há nada, que eu possa fazer

Para o parar!

Tenho amigos no estrangeiro

Que não vêm ter comigo,

Só por o mundo girar...

Anseio por conhecer novos mundos

Que não o meu,

Que gira em torno do meu mundo...

Doravante vou girar eu,

Para conhecer um mundo,

Talvez diferente do meu!

*

Tudo o que eu peço.

Irmã do Amor

Irmã traz-me uma estrela,

Irmã traz-me o sol,

Irmã traz-me o mar,

Irmã traz-me o amor!

Irmã olhou-me nos olhos,

E murmurou...

Canalha sem respeito,

Tristeza de homem feito.

Santa ignorância!

Que nunca tiveste infância...

Virgem ao vento...

...nunca hás-de ter um rebento!

Irmã voltou-me as costas,

E foi...

Partiu sem deixar rasto...

Os anjos não deixam pegadas.

Nem anjos nem fadas,

Madrinhas de preferência,

Para apadrinhar minhas condolências!

...Não percebi porque tinha...

Uma estrela na mão,

O sol na outra,

E bebia água do mar...

E todavia, Irmã tinha-se posto...

A andar!?

*

Finalmente o amor…

Cego de Amor

Ontem tinha uma venda nos olhos que não me deixava ver...

...não te vi!

Deitei-me à noite sobre minha cama e masturbei-me com meu pensamento, em que tua imagem era meu fiel destino!!! Nada de perverso diga-se!?

Hoje, quando de manhã acordei...

Estava cego! Não sei porquê!? Foi pecado que cometi,

Ver-te em meus sonhos, em sussurros de extrema loucura, divagações de alegria e tristeza; como o tic-tac do relógio que não pára!...não pára para ti! Não pára para mim! E se eu fosse fada fazia os ponteiros rodarem em sentido oposto,

Para encontrar alguém de quem gosto...

Amanhã vai passar á minha porta uma rapariga que me vai amar...como não sou surdo, ainda a vou ouvir dizer...mas como sou cego não a vou poder ver!!

É pena, porque ela és tu...e eu amo-te!

*


Até te Amar

Vou andar,

Vou correr,

Vou saltar,

Vou gemer,

Vou voar,

Até te encontrar.

Vou procurar,

Vou fugir,

Vou cantar,

Vou rir,

Vou chorar,

Até te achar.

Vou dançar,

Vou crer,

Vou corar,

Vou vencer,

Vou lutar,

Até te agarrar.

Vou suar,

Vou sentir,

Vou criar,

Vou mentir,

Vou gritar,

Até te amar.

*

O encontro.

Adeus Querida

Dois corpos, duas almas,

Que deambulam em silêncio,

Aconchegam-se na areia,

Em leves reboliços, carícias...

...Junto das estrelas,

Perto do mar... e...

...Fornicam !!!

...Fornicam !!!

Partem à procura do sonho,

Sem medo de encontrar algo medonho,

Tornam-se um...

...E o medo é...nenhum...

...E a lua que é tão bela...

...E como geme aquela cadela !!!

Em coma conjugal,

Bem perto do pecado,

Bem junto do mal,

Era bom se não tivesse acabado,

Em fúteis lembranças,

Como quando lhe agarraram pelas tranças

E a sucumbiram...

A outra vida...

E fugiram... com um simples...

...Adeus Querida...

*

O que é o amor afinal?

O amor...a confirmação pelo absurdo...

O amor,

Não se escreve

Não se fala

Não se descreve

Não se ignora

Não se inala

Não se inspira

Não me inspira

Não se expira

Não expira

Não se sente

Não se mente

Não me mente

Quando não mente

Não se sente

Quando não se sente

Não se mente

Quando a verdade parece latente...

Não se ri

Não se chora

Não fica por aqui

Quando se vai embora,

Não me perturba

Não me aflige

Não é alma

Não é vento

Não me dá calma

Nem alento!

Não se grita

Não se berra

Não é luta

Não é guerra

Não é paz

Não é algo que se faz

Não está por fazer

Não é viver

Não é morrer

Não tem explicação

Não é coração

Não é razão

Não é absurdo

Nem ridículo

Não é motor

Nem é vida

Não é dor

Não é morte

Não é azar

Não é sorte

Não é um jogo

Nem tem parceiro

Não é fama

Não é dinheiro

Não é cego

Nem é mudo

O amor não é nada,

Nem me tira tudo...

O amor é a pura inocência...

...que me deixa a cabeça cheia de turbulência

...através da comprovação pelo absurdo consigo numa infinitésima parte provar que o amor em sua parte abstracta me transcende, por não saber se existe para mim, como existe para os outros...certezas tenho poucas, dúvidas não tenho nenhumas. Não posso indagar por algo que nunca palpei...sei que sonhei um dia com ele, um ou talvez dois...não sei??!!!

Terei sentido, e eu disse “sentido”, há falta de palavra melhor para a descrição pormenorizada do evento não normal que me aconteceu...contudo para além da Alma, Deus, Mundo, a metafísica deveria implantar o amor como fim para descobrir os meios que nos levam ao fim através dos meios que nos levam a descobrir os objectivos e as causas que estão subjacentes em tais actos pecaminosos, para não dizer que o pecado é grave! Digo simplesmente que de amores morremos todos, com o amor poucos vivemos...completei a minha tarefa...

*

Nem tudo é perfeito.

Adultério

Queria escrever algo,

Que merecesse honras de fidalgo,

Queria escrever o que não sei,

Para me poder tornar rei,

Rei e senhor,

Da paixão,

Do amor.

Mas agora vou comprar um caixão,

Para enterrar minhas amarguras,

Vou enterrá-lo no cemitério,

Das doces loucuras,

Será adultério?

Ou faço parvas figuras,

Como esta que faço agora?

Ao escrever o que sinto,

Prefiro afundar minhas mágoas em absinto,

Que revelar meu amor por ti...

Sim! Que fraca resposta,

Não tenho melhor,

Melhor só o amor de quem o meu coração gosta...

*

Nada na vida é eterno. É uma questão de tempo.

O Poema mais belo alguma vez escrito por um mortal

A vida que nos espera,

Não é o que nos desespera.

A vida às vezes tem destas coisas que não entendemos,

Tem coisas que não percebemos,

Tem escadas pelas quais descemos,

E não conseguimos subir.

Tem abismos de choro,

E coisas que nos fazem rir.

Nunca pensei em escrever um poema

Num dia particularmente inóspito,

Como o de hoje,

Nem nunca pensei que fosse o meu poema mais triste,

Porque partiste.

Porque eu quis,

Porque eu deixei,

Porque por outro alguém me apaixonei,

Esse alguém é ar, água e fogo, talvez terra…

Esse alguém não é ninguém…

E sem querer magoar a falsa hipocrisia,

Decidi afastar-te um dia…

…a seguir ao outro,

E outro ainda…

Até chegar o para sempre,

Que se tornou eternidade.

E se a eternidade não queima o comum dos mortais,

Leva com ela os meus sentimentos e os teus e os que foram demais.

Demais para momento,

Demais para cego ver,

Alguém te há-de amar,

Alguém te há-de merecer.

A vida tem destas coisas que não percebemos,

E não entendemos,

E não fazemos por entender,

Entreguem-se a elas com todas as forças!

E não reajam.

Porque a razão é inimiga da perfeição,

E a minha alma tem cem anos

De vida,

E cinquenta anos

De mortes,

Não quero ser mais um entregue às suas sortes.

Nunca pensei que o mais belo poema de sempre

Fosse de algo tão singelamente triste ou amargoso,

Tenho tufões de energia dentro de mim,

Sorrisos fónicos,

Que me fazem cintilar de prazer cada vez que te vejo,

E quando te vejo, quero voltar a ver-te,

E quando te tenho,

Quero voltar a ter-te.

E quando te amar por completo

Quero ensinar-te palavras que não existem no abecedário,

E contar-te o conto do vigário

Vezes sem fim.

Porque afinal de contas a vida é mesmo assim…

Triste, amarga sem piada,

Porque a vida é mesmo assim,

Seca vazia e assediada.

Serão os ritmos cardíacos do nado vivo iguais aos meus em choros de pranto fingido?

Serão frases feitas que me trarão felicidade?

Serão as coisas fúteis mais fáceis de emergir?

A simplicidade das coisas confunde-me até eu chegar ao ponto de me baralhar,

Mas não sei se voltarei a querer coisas confusas para amar…

Estou farto da vida que levo,

Mas não invejo a vida do alheio,

Sinto como uma ponte entre o que é, e o que medeio.

Sem nexo nem sentido

Acabo o mais belo poema alguma vez escrito,

Se não fosse por mim,

Nunca alguém o teria dito.

*

E depois do Amor o que fica?

O Remanescente

Aquilo que era remanescente,

Já não o é!

Finalizar o eminente,

O fim do que é!

Aqui não já somente, jaz nada de afável.

Ou palavras, mil palavras,

Em tom amigável.

Aqui não jaz nada,

Do que imagino,

Que seja o imaginável!

Pela minha pessoa sou sucumbido.

Até despertar...e errar, e me prostituir,

Para ganhar ânimo...

... Sejamos falsos,

Que temos competências para tal.

Sejamos fúteis,

Sejamos sofríveis,

Sejamos nós,

Porque temos competências para tal!

Critiquem... critiquem,

O que remanesce.

Bocejem... bocejem,

Que meu âmago adormece.

Do que era... já nada fica,

Do que é... só me prejudica.

Deixei para trás tudo o que prevalece

Embalem... embalem

Que só assim meu coração adormece...

*

Ode ao Ex-Amor

Parte I

O que passou...passou,

E do que ficou,

Já nada resta,

Já nada presta!

Ficaram as incumbidas memórias,

As histórias mal contadas,

Aquelas frases que magoaram,

Os reboliços, os risos, a luta, os desejos...

...as histórias mal contadas...

...as noites de amor,

Do teu sorriso nas minhas piadas.

Fica o fósforo aceso que brilha

Na tua retina,

Naquele amargo dia

Em que a cigana me leu a sina

E não me disse nada,

Que eu já não soubesse,

E se não me põe feliz,

É claro que me entristece.

Saber que o que foi,

Foi!

E não volta jamais a ser.

Saber que o que é,

Não faz parte do que foi,

Porque o que foi,

Foi!

E já não é!

Saber que o que será...

Não sei se aguento pensar

No que será...

Sabendo que o que será

Nada tem a ver com o que foi.

Sabendo o que sei

Faz agora um exacto momento preciso

Não voltarei atrás

Com algum erro

Que por mim não foi cometido!

Não trarei na algibeira

Moedas rotas

Para pagar o que não devo...

Mas sofres...e

O que me magoa...

É que sofres...

É o que me põe assim,

A pensar se quero o futuro!?

(esse triste indivíduo),

É saber que sofres...

Pelo que poderia ter sido.

Parte II

Agora aprendi a ser,

Insolente, cruel

E talvez um pouco mais maduro,

Mas continuo a acordar todos os dias de manhã

A pensar se quero o futuro...

Parte III

...Descobri hoje, que também sou gente...

...não sou igual a ti nem sou diferente...

...não queria agora ser eu...

...não queria agora ser outro...

...Descobri hoje... que também sofro.

*

A Fé que nos salva…a Fé. Seja ela quem for.

Imaculada

Imaculada minha graça que

Impávida ficou,

Olhando o descalabro.

Teu retrato caiu,

A moldura partiu-se...não o apanhei!

Não me distancio de nada...a não ser de ti,

Oh gralha que palras e cantas!

Que com teu sabor a amargo mel,

Me encantas!

Não fui jogar às escondidas com ninguém,

Não estou no cume de nenhuma montanha...

...estou aqui...onde tu me podes alcançar.

Queria que minha voz soletrasse

Infinitas vezes,

Frases doces, soltas...uma a uma...

Porque só assim,

Saberias que a imaculada Senhora que nos ouve,

Sonhou ontem comigo.

E eu sonhei com ela,

Não era feia, não era bela.

E trouxe a minha casa...incenso de jasmim...

Há noites que não têm fim!!!

Ando a sonhar com Imaculada nossa Senhora desde o ano passado

E ela ainda não fez nada por mim!

(pecado) …

Espero que a raiva não seja palavra de seu dicionário,

E que eu não seja um pecador nato,

O melhor será talvez...

Apanhar o teu retrato!

IV – O Destino

Porque a vida nasce sem título, porque nós nascemos sem nome, porque as coisas são coisas porque as conhecemos enquanto tal.

Sem título

A vida é uma festa

Que nunca terá fim

E tu serás,

A mais bela flor

Que eu para sempre guardarei

No meu jardim...

A vida é aquilo que nós quisermos,

A vida é nossa,

A vida é maravilhosa,

E como eu gosto de ti,

Minha rosa...

A vida é uma fonte

Onde reina a transparência,

Onde a água transborda de beleza

e... como eu gosto de ti,

Minha princesa...

*

Não acaba por aqui, não há pontos finais de onde vimos

Metáfora do Destino

Sem querer parecer desiludido,

Ou alguma vez “bestializado”,

Pelas tramas a que me sujeitaram

Pelas armadilhas que me pregaram

Pelas veias que me cortaram,

Minhas artérias implodiram

E sem deixar rasto...

...o meu destino se traçou...

...Se Deus algum dia escreveu direito por linhas tortas, poderei eu dar-me ao luxo de cometer tal loucura, e torcer as linhas que Deus escreveu, para que lá eu possa escrever torto!? E sem me transformar numa alma pecaminosa, ditarei eu próprio o meu passado, construirei eu mesmo o meu presente...e desejarei que tu faças parte do meu futuro...

Arrancando as chagas a Jesus

E tocando doze badaladas num só sino,

Substituo Deus na cruz

E sou Senhor do meu destino.

Pelo exagero que aqui cometi

Peço desculpa e faço vénias.

Luzes psicadélicas!!!!!

Atritos de neon!!!

Olho o céu...junto as estrelas

Invoco Orion,

E, proponho-lhe um brinde,

Com um copo atestado de um qualquer licor...

Com um pico de amargura.

Olho-o nos olhos e desafio-o:

- Devolvo-te o teu ódio,

Se me devolveres a minha ternura.

...negócio ao qual sucumbiu e recusou.

Proponho-lhe então novo brinde,

Com um copo atestado de whisky do mais fino:

- Dar-te-ei a minha vida,

Se me devolveres o meu destino.

Espantado...brindou a mim

E, sem dúvida nem rancor,

Deu-me o que era meu

E assistiu sorridente ao meu fim...

*

E porque o fim nunca é igual para todos…continuamos a pensar que haverá sempre mais.

O Infinito

...O infinito,

Está mesmo aqui,

A meu lado...

Onde vive,

A teu lado...

Onde sobrevive,

...sempre quis ter um caderno,

Para escrever um ditado...

Nunca o tive...

*

Menti-vos! Não era a minha vida! Pode ter sido a vida de alguém, pode ter sido um dia na vida de alguém, pode ter sido um minuto na vida de alguém…o que é certo é que a vida é isso mesmo, uma enorme esfera repleta de acontecimentos, mais ou menos felizes. Cada um de nós faz por ela se repetir a si própria vezes sem conta.

Um passo, uma decisão, um instinto, pode alterar tudo. Banal o que foi escrito. Banal. Nada disto é o que nos preenche afinal…

…temos que vivê-la…vezes sem conta…e mais uma vez…e outra vez…e uma vez mais…até fartar e cansar… adormecer…e acordar…para um novo dia.